Kangal o mendigo, estava absorto ouvindo um grupo de devotos, cantando mantras, em homenagem ao grande Krishna:
-Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare, Hare. Hare Rama, Hare Rama, Rama, Rama, Hare, Hare… cantavam e dançavam graciosamente às margens do rio Ganges, tocando alguns instrumentos de percussão e invocando a proteção do grande Avatar.
Kangal deu uma repassada nas lembranças de sua vida de necessidades, enquanto ouvia os devotos de Krishna. A fome começa a incomodar e ele sai cantarolando o mantra, em busca de alimento. A todos que ele pedia lhe negavam um prato de comida, as pessoas o olhavam com repulsa, como se a pobreza dele fosse uma doença contagiosa. Já cansado de caminhar e morto de fome, Kangal sentou-se debaixo de uma enorme árvore, começou a recitar o mantra que ouvira os devotos do Lord Krishna cantar…
Hare Krishna, Hare Krishna…cantava baixinho, já que suas forças lhe escapuliam, de tanta fome.
Yogod, um garoto de 13 anos, vinha da escola, reparou naquele homem que cantava um mantra muito bonito… se deteve ali contemplando o mendigo, naquele cenário que produzia uma atmosfera de paz, harmonia e felicidade para o garoto. O mendigo ao perceber a presença de Yogod, fingiu estar em meditação profunda. Pensou consigo… quem sabe o garoto não lhe traria um prato de comida, ao lhe confundir com um yogue ou um buscador de Deus… Yogod o garoto, na sua inocência, corre até a sua casa, chega esbaforido e pede à sua mãe um prato de comida, para levar ao santo que meditava sob uma grande Figueira. Kangal o mendigo, acolheu o prato de comida que o garoto lhe trouxera, comeu silenciosamente, como os santos sempre fazem, devolveu as vasilhas sujas e vazias a Yogod e voltou a fingir que meditava.
No dia seguinte, O garoto chega com um prato de comida suculenta, com muito cuidado para não perturbar o santo, coloca o alimento aos pés de Kangal, que fica muito agradecido, entrando em contato com a comida pelo olfato, e continua fingindo ser um yogue silencioso, em busca da sua realização. A partir daquele dia Yogod, coloca na sua rotina diária; Chegar da escola esbaforido, apressar sua mãe para fazer o prato de comida do seu mestre e ir correndo servi-lo. Sentava-se aos pés do mendigo de mãos postas e aguardava silenciosamente este fazer sua refeição, o mendigo por sua vez, se acomodou nesta situação, já que o seu almoço diário, estava garantido. Yogod jamais podería desconfiar, que o mendigo não poderia ser seu mestre e nem mestre de ninguém.
Passados alguns dias, o garoto chega com o almoço do seu guru, como de costume, no fim da refeição, Kangal o mendigo, lhe dirige a palavra pela primeira vez e diz:
-A partir de amanhã, você está liberado de me trazer o prato de comida.
-O quê? Não acredita Yogod, no que acabara de ouvir.
-É isso mesmo que você ouviu. Confirma Kangal, amanhã, não estarei mais aqui, hoje à tarde partirei, já que cumpri a minha missão nessa cidade, preciso levar as minhas bênçãos a outras cidades necessitadas.
-Eu irei com você?! -Interrompe Yogod, quase que suplicando.
-Não, Você não pode. Você tem que estudar, você tem uma família que sentirá a sua falta.
-Que me importa mestre, a escola, a família, diante do meu amor, entrega e devoção ao meu guru. Você é o meu guru não é? Quer saber Yogod. O mendigo se vê bem encrencado diante daquela situação, jamais imaginou que pudesse ter um discípulo tão puro, amoroso e devotado.
-Não. Você fica. Diz o mendigo entre enfático e desesperado.
-Mas Mestre, tenho vindo aqui todos os dias, tenho lhe servido com devoção, tenho me esforçado para aprender as suas lições silenciosas… como vou viver sem a sua presença… chora o garoto desamparado pelo seu falso mestre.
-Pare de chorar! Grita o mendigo firme… vou lhe dar um mantra que irá me substituir perfeitamente… tentando consolar Yogod. -Todas as manhãs, às seis horas, entoe esse sagrado mantra, repetidas vezes. Se você seguir estas instruções, num futuro muito próximo, você se iluminará.
-Está bem meu guru querido, eu o farei, estou ouvindo, mas eu ainda preferia partir com você… diz o garoto limpando os olhos com o dorso das mãos.
-O Mantra é o seguinte: “Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare, Hare”…Repita comigo até aprender…
-Já sei mestre, Hare Krishna, Hare Krishna… esse é o Maha mantra dos Hare Krishnas, costumo ouvi-los cantar, só não sabia do poder desse mantra. -Interrompe o garoto Yogod, repetindo o mantra por algumas vezes, demonstrando que estava atento.
-Este é o seu mantra sagrado, agora volte para sua casa e não esqueça de entoar o seu mantra a partir de amanhã… às seis da matina. Complementa o mendigo aliviado. Despediram-se, o garoto pareceu mais tranquilo em relação à partida do falso guru.
Yogod saiu daquele último encontro, cantarolando o seu mantra para jamais esquecê-lo:
-Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna, Krishna, Hare, Hare…A família de Yogod, acostumou-se com a cantoria do mantra madrugada adentro, – Hare Krihna, Hare Krishna… Yogod cantava o mantra em voz alta ou em silêncio o tempo todo que Deus lhe dava, afinal o mestre lhe garantiu, que se assim agisse se libertaria ou se iluminaria.
Três anos se passaram, Kangal o mendigo estava numa cidade distante dali, muito enfermo, os médicos e curandeiros já o haviam desenganado, ele estava com uma doença muito grave. Na sua última consulta, o médico lhe recomendou para despedir-se de seus parentes, mas o mendigo não tinha parentes. Lembrou-se do garoto Yogod, que lhe alimentou por algum tempo, que o respeitou, reverenciou como a um grande yogue. Então, Kangal o mendigo resolve voltar à cidade do garoto para se desculpar, por ter se passado por um yogue, já que a culpa o consumia. Ele sabia muito bem o que ele realmente era, não passava de um mendigo. Preparou um farnel e dirigiu-se para a vila onde conhecera Yogod, disposto a pedir perdão ao jovem. Bem sabia que o perdão é tarefa difícil, tinha que ser forte para encarar Yogod de frente e se desculpar.
Chegando na pequena vila, dirigiu-se para a grande árvore às cinco da manhã, onde há três anos se sentara e fora alimentado pelo bondoso garoto. Kangal chegou muito cedo e pode ver uma fila imensa, que dobrava esquinas, de pessoas que vinham de diversos lugares, com as mais diversas doenças, aguardando atendimento, cegos, aleijados, desvalidos… Kangal entra na fila, sem saber muito bem porque, talvez por curiosidade, a fila vai crescendo atrás dele rapidamente. Resolve então perguntar, para uma anciã à sua frente:
-Que fila enorme é essa? Estão distribuindo remédios, ou o quê? Como funciona?
-Todos aqui nessa fila seremos curados de todas as nossas enfermidades, do corpo físico, psíquico e da alma, pelo jovem santo. -Responde-lhe a idosa complementando, o maior santo que a Índia já conheceu.
Kangal o mendigo, fica animado considerando aquilo tudo um verdadeiro milagre, Ele desenganado com a chance de ser curado pelo maior dos santos… sente uma fraqueza, começa a suar frio, ele desconfia que é pelo cansaço da viagem empreendida, para chegar até ali. Começa a desconfiar, que o jovem santo não dará conta de atender tanta gente… perdido nesses pensamentos, um discípulo do santo, toca seu ombro delicadamente e lhe fala ao pé do ouvido:
-Meu mestre pediu-me para colocar-lhe num lugar mais apropriado dessa imensa fila, ampara o mendigo e o coloca na frente da fila. Todos ficam admirados, já que era dito por todos, que ninguém tinha privilégios com o jovem Santo. Quem será aquele ancião? Era o que todos se perguntavam… Kangal, não entende absolutamente nada do que lhe está acontecendo. Quando a porta da casa simples do grande curador se abre, as seis horas da manhã, Kangal não acredita no que vê, acha que só pode estar tendo o seu último delírio antes de morrer. Já é um rapaz, de uns 16 anos o santo que se apresenta diante dele. Suas feições não mudaram muito, talvez um pouco mais delgado, mas definitivamente aquele era o garoto que lhe tratou equivocadamente como se trata um guru, com amor entrega e devoção. Os olhos do garoto brilhavam mais que antes, seus gestos eram graciosos, suave, amoroso e irradiava uma grande alegria por encontrar Kangal, o seu guru que partira e lhe deixara para tras. O velho mendigo, dobra os joelhos com dificuldade e cai no chão, diante daquele santo verdadeiro, e lhe pede perdão, quase que aos gritos:
-Perdão! Meu Deus! Você se iluminou!
-Não há o que perdoar, você é o responsável pelo meu despertar, pela minha iluminação, não fosse você, o que seria de mim, provavelmente estaria ainda nadando no mar da ignorância, agora sou o sabedor de todas as coisas… Yogod ampara o mendigo com seus discípulos, deitam-no na maca e o mendigo sente uma vibração muito forte e muito pura, que emana das mãos do santo. O santo espalma suas mãos próximas ao corpo de Kangal, ele pode ver um grande fluxo de luz dourada, fluindo das mãos do jovem santo Yogod. Antes de apagar completamente, Kangal ouve o garoto entoando um mantra que lhe era familiar:
– Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare…
Quando Kangal desperta do transe, está curado completamente.
Quando o discípulo é puro e verdadeiro, ele realiza Deus, ainda que o seu mestre seja falso. -Diz Kangal ao despedir-se do garoto.
-Você é um yogue realizado! Um dia você se dará conta dessa realidade. -Diz yogod com seu sorriso sutil que a tudo ilumina.
Hoje contarei para vocês, a história do jovem Yogod de dezesseis anos, que morava com a sua avó, às margens de um rio grande. Quase todos os dias, o jovem atravessava o rio, com o barqueiro Nandika que era amigo família. Assim, comprava alguns mantimentos, do outro lado do rio, onde havia um pequeno comércio. Numa dessas travessias, ouviu falar que em frente à sua casa, do outro lado do rio, tinha um yogue praticando austeridade e se dedicando a práticas espirituais avançadas. Yogod sabia muito bem, que se ele pudesse ajudar o tal yogue, ele seria muito abençoado. Mas, como? Depois de muito pensar numa forma de ajudar o yogue, resolveu levar um litro de leite. Naquele dia Yogod acorda às seis da manhã, depois de ordenhar a vaca, pegar uma carona com o canoeiro, finalmente chega ao local onde o yogue se encontra às nove da manhã. O ancião está na sua prática de meditação, num lugar deserto, sob uma grande amendoeira, quando ele chega, pisando com cuidado para não perturbar o praticante, aguarda silencioso, e conclui que se aquele homem ainda não realizou Deus, está muito próximo. Yogod fica encantado, com aquela visão do yogue meditando, parece que o tempo parou e que tudo se elevou, até mesmo os pássaros estavam em silêncio, O jovem Yogod podia ouvir uma folha caindo, enquanto admirava a serenidade, a paz e a beatitude, que aquele ser irradiava para ele em silêncio. Yogod se sente grato por estar no lugar certo, na hora certa, a serviço de alguém que se dedica à espiritualidade. O yogue abre seus olhos brilhantes de luz, Yogod se curva respeitoso e oferece o que trouxera para o yogue, um litro de leite e seu próprio coração pleno de amor e gratidão.
O yogue olha para o jovem, que fica paralisado com aquele que poderia ser um simples olhar, ele não saberia dizer, o que tinha de diferente nos olhos do yogue. As palavras não alcançam, o entendimento e a definição de determinadas experiências. Ao final desse primeiro encontro auspicioso, Yogod sai saltitando de volta para a sua casa, cantarolando, assobiando e rindo á toa Aquele parecia ser o dia mais feliz de sua vida. Tudo fluiu na mais perfeita harmonia, Yogod estava em paz consigo e com o mundo… quando vai dormir, agradece por aquele dia maravilhoso, que começou com o encontro inusitado.
-Amanhã, acordarei mais cedo para não perturbar a meditação do meu mestre… do meu mestre? Ele só me olhou, nada falou comigo… já estou eu dizendo que ele é o meu mestre… por que não? Devo ter aprendido muitas coisas no mundo interior, naqueles poucos momentos de silêncio… com aquele olhar especial que ele dirigiu para mim. Yogod pega no sono e no dia seguinte está de pé às quatro da manhã.
Ordenha a vaca, corre para pegar o pequeno barco do Nandika, corre até o destino onde se encontra o yogue e chega lá às sete horas em ponto. Percebe que o santo já está em meditação profunda. Yogod senta-se em silêncio, aguarda, até que o yogue volte para o seu estado de consciência ordinário… o Yogue aceita a oferenda do jovem, e faz um delicado sinal despedindo-se. O jovem rapaz se sente cada vez mais feliz, mais em paz, mais conectado com aquele yogue silencioso, que transmitia muito sem a necessidade de palavras. Estava deveras orgulhoso espiritualmente, pelo serviço, já que no seu entendimento, ao servir um buscador de Deus estava servindo ao próprio criador o Supremo. Todos percebiam a mudança, Yogod andava com um lindo sorriso estampado no rosto, um sorriso fácil, relaxado, saltitante, levando aquela luz e alegria por onde ia.
Yogod tinha certeza de que o Yogue estava muito satisfeito com ele, com a sua oferenda, ainda que ele não tenha falado ou feito qualquer comentário, a esse respeito. Depois de algum tempo nessa rotina de acordar entre quatro e cinco da manhã, ordenhar a vaca, pegar o barco, chegar ao yogue meditando às sete… o homem santo, num belo dia resolve dirigir-lhe a palavra:
-Você não pode chegar mais cedo? Às seis? Indaga o Yogue e o jovem estremece.
Yogod, meio que nervoso, responde que não é possível, já que o barqueiro começa a fazer a travessia às seis da manhã. Diz que pega o primeiro horário de travessia para estar ali diariamente às sete… não estou reclamando, só estou querendo mostrar ao Senhor que não estou sendo negligente e nem letárgico… que se dependesse de mim claro que eu chegaria às seis com o maior prazer.
-Então, a partir de amanhã, você não precisa mais trazer o leite. Diz o Yogue muito tranquilo. E o mundo do jovem Yogod desaba com a frase que acabara de ouvir.
-Mas, por que mestre, não faça isso comigo, eu trago o seu leite com tanto prazer e alegria, Eu gosto e eu estou muito feliz em servi-lo, não faça isso por favor, esse leite é puro, fresquinho.
-Não se trata disso, interrompe o yogue. Quando você chega aqui, que nem sempre é no mesmo horário, já estou meditando… isso perturba um pouco a minha prática, como você pode ver, ainda não estou tão evoluído assim, a ponto de a sua presença não trazer perturbações. Faz-se um silêncio e pode-se sentir a tristeza que toma conta do coração de Yogod, que se pergunta em voz alta:
-E agora, o que será de mim? Tem que haver um meio, o Sr. é um homem sábio, sei que pode me ajudar, como faço para chegar aqui às seis? Implora Yogod. – Diga-me, que em obediência eu o farei.
-Parece-me que o que impede você de chegar aqui às seis da manhã, é a sua travessia do rio, você depende do barqueiro e ele só começa a travessia no horário que você deveria chegar aqui. Você tem mesmo que depender do barqueiro? Pondera o ancião.
-Ora mestre, como posso atravessar o rio sem barco? Isso é impossível! O barqueiro não começará a travessia mais cedo, só porque quero lhe trazer um litro de leite. Me desculpe! Pede Yogod meio que desesperado e impaciente.
-Talvez seja possível. -diz o yogue.
-Como? Do que o Senhor está falando? Quer saber Yogod.
-Venha andando sobre as águas! Diz o yogue enfático.
-O quê? Mas eu posso? Duvida Yogod.
-Para aqueles que creem, nada é impossível! -Se você tiver fé plena, inabalável, você conseguirá andar sobre as águas. Todos sabemos que o mestre Jesus o fez. Garante o yogue.
Yogod vai embora naquela manhã muito triste e pensativo. No dia seguinte, Yogod chega às seis da manhã em ponto, ele então percebe que o yogue fica bastante satisfeito…nos dias que se seguem, Yogod sempre pontual…até que um dia….O yogue resolve dar o ar da graça da sua voz novamente:
-Você resolveu seu problema com o barqueiro? Pergunta o Yogue.
-Não. Diz Yogod encabulada. -Eu tenho vindo andando sobre as águas do rio, conforme o senhor mesmo sugeriu… mas ainda estou me acostumando com a ideia é um segredo, ninguém sabe que faço isso, venho da minha casa por uma trilha até o rio, um pouco acima daqui, sempre tomando cuidado para que ninguém me veja. Quer saber? -É muito bom andar sobre as águas, chegar aqui no horário combinado e vê-lo satisfeito comigo. Complementa Yogod sorridente.
-Posso saber como você faz isso? Pergunta o yogue admirado e meio incrédulo.
-Como o Sr. sugeriu, fé plena e inabalável, lembra? Consegui na minha primeira tentativa e jamais fraquejei na minha confiança e fé nos seus ensinamentos. Diz Yogod.
O mestre põe suas vestes, uma espécie de dote (túnica branca e fina), uma sandália simples e pede para Yogod lhe mostrar esse grande feito. No caminho para o rio, o velho yogue confessa que embora soubesse, que andar sobre as águas é possível, ele mesmo, jamais havia tentado.
-Isso não vai ser nenhum problema, eu mesmo lhe mostrarei como se faz….Diz Yogod muito tranquilo e confiante.
O jovem Yogod e o yogue chegam a beira do rio, o rapaz começa a andar sobre as águas com desenvoltura, enquanto o yogue enfia seus pés na água e diz:
-Eu não consigo! Veja, Eu estou afundando… segurando os chinelos numa das mãos e levantando a túnica com a outra.
– Yogod começa a rir daquela cena do pobre yogue afundando… você consegue! Mas, tem que ter plena fé e confiança. Não pode levantar a túnica para não molhá-la como o sr. fez e nem pode tirar as sandálias dos pés.
Bem, essa é mais uma história de autotranscendência e superação. Onde o mestre é superado por seu discípulo, que com a sua fé e vontade de servir, opera milagres. O yogue por sua vez, fica muito feliz com o seu discípulo, que na sua obediência o supera.
O professor Yogod foi convidado para contar e comentar uma história mitológica da Grécia, para os alunos de psicologia de uma grande universidade.
-Hoje vamos contar a história do anjo Eros e da Psiquê. Uma das mais belas histórias mitológicas na minha opinião, que se dá numa relação entre os homens e os Deuses do Olimpo. Existiam doze deusas no Olimpo, uma delas é a Deusa do amor, Afrodite, que é mãe do anjo Cupido, que sai por aí atirando setas e flechas de paixão. É o responsável pelas grandes paixões da humanidade. Ao crescer, o Cupido se torna o jovem anjo Eros, que tinha uma beleza incomparável, tanto no nível da beleza humana, quanto no que diz respeito à beleza dos Deuses do Olimpo. Ele era perfeito em tudo e era todo amor. Sua função, tal qual a função do anjo Cupido, continuava sendo a mesma: espalhar a paixão através dos corações humanos.
-Muito bem! Psiquê era uma das três filhas de um Rei de Anatólia. Era tão bonita, que os homens e pretendentes a temiam por sua beleza e se acovardavam. Nenhum deles se achava merecedor daquela jovem e começaram a admirá-la como a uma Deusa. Às vezes exageravam e ofereciam mimos e oferendas para ela. Afrodite, a Deusa do amor, a mais bela das Deusas do Olimpo, vendo tanta admiração e agrados, ficou enciumada e delegou ao seu filho Eros, o Deus da paixão, que desse uma lição, naquela que supostamente estava roubando o seu lugar.
-Desfira uma flecha contra Psiquê, depois então, desfira a mesma flecha contra o homem mais feio do mundo, para que eles se apaixonem e se casem. Orientou Afrodite, entendendo que seria uma ótima vingança, ver a mulher mais bonita da terra, matrimoniar-se com o homem mais horripilante.
Eros desce do Olimpo, vê Psiquê adormecida na beira de um regato à sombra de uma grande árvore. Eros dispara sua flecha contra Psiquê, e quando vai recolher a flecha para desferi-la contra o homem mais feio do mundo:
-Veja que ironia do destino, quando Eros está retirando sua flecha, Psiquê suspira e Eros percebe que está diante da jovem humana mais bela que ele já vira. Distraído, se fere com a seta que estava destinada ao homem mais feio do mundo e ali mesmo, Eros se vê apaixonado como nunca lhe acontecera, já que a sua paixão até então, era ver os casais apaixonados que ele mesmo flechara. O tempo passa e as duas outras irmãs de Psiquê se casaram. Para ela, nada de aparecer nenhum pretendente. A Deusa Afrodite, continuava acompanhando tudo o que acontecia com a bela jovem e não estava nada satisfeita com as tais oferendas. Continuava temendo que ela pudesse tomar o seu lugar. Onde já se viu, os homens fazerem oferendas para uma simples humana. Afrodite acreditava que quando Psiquê se deparasse com o homem mais feio do mundo, ferido por seu filho Eros, tudo estaria acabado.
O pai de Psiquê, o Rei, resolve consultar um oráculo, quando vê que suas duas outras filhas se casaram e que não apareceu nenhum pretendente para Psiquê. – O que se passa com a sua bela filha? Quer saber o velho Rei. Que fica muito triste pelo destino indicado pelo oráculo consultado. Orientou o oráculo, que o pai vestisse a filha com roupas e adornos de uma noiva e que a abandonasse no pico da mais alta montanha, para que ela fosse sacrificada a desposar um homem incomum. Cumprindo com a orientação, o rei acreditava que o seu reinado continuaria próspero e pacífico. O Rei comunicou a familia o ocorrido e todos concordaram pesarosos, entendendo que esse homem incomum seria um monstro ou algo parecido. A rainha, as duas irmãs de Psiquê e a própria se conformaram com aquela trágica situação. O castigo imposto por Afrodite, que envolveu Eros o seu filho, para dar uma lição em Psiquê, estava próximo de realizar-se. O velho Rei, prepara a sua filha para a noite de núpcias, e a leva para a montanha mais alta, onde o vento Zéfiro sopra. Psiquê adormece para fugir do medo e é levada pelos ares, colocada suavemente num vale cheio de árvores, num palácio dos sonhos, cercado por um imenso jardim, com criados para servi-la em tudo quanto fosse necessário. Psiquê acorda, já é noite, seu pretendente está presente, extremamente educado, atencioso, carinhoso e apaixonado. Ela se sentiu divinamente amada, ele coloca uma única condição, como um pacto nupcial; Ela jamais poderia vê-lo, se isso viesse a acontecer ela o perderia para sempre. Seu marido chegaria sempre à noite, com todas as luzes apagadas para que ela não visse o seu rosto. Psiquê concorda prontamente, com essa única condição feita por seu marido, já que ela estava muito, muito feliz. Eros desposou-se dela, mas sua mãe Afrodite jamais poderia desconfiar, que ele Eros, seu próprio filho não executara a sua vingança, tudo que Eros não queria era despertar ainda mais a fúria de sua mãe, contra a sua esposa. Ele a conhecia muito bem. Ela só descobriria o segredo de Eros, se a sua esposa visse o seu rosto, daí a necessidade do acordo de núpcias.
-Passado algum tempo, Eros e Psiquê, era o casal mais feliz de todos os tempos. Um belo dia, apesar das recomendações dos oráculos, de que Psiquê, deveria esquecer o passado, e viver no presente com o seu marido. Ela começa a sentir falta das suas irmãs e da sua família. Então ela pede a seu marido permissão para visitá-los. Com um certo receio, Eros concorda. O vento leva Psiquê até o Palácio de seus pais, que ficam encantados com a aparência da filha, o impossível aconteceu, a filha ficou mais bonita ainda, com a aparência de felicidade plena. Psiquê começou a falar da sua vida feliz ao lado do marido, de como ele não lhe deixava nada faltar, de como o seu palácio era maravilhoso, falou dos seus jardins, da arte e da beleza que lhe cercavam. Enquanto falava as suas duas irmãs ficam possuídas pela inveja, se até os Deuses do Olimpo sentem inveja, imagine elas que são simples humanas. Resolvem então pedir para a irmã descrever o seu marido. Psiquê desconversava, mudava de assunto, mas as irmãs insistiam em querer saber da aparência do marido de Psiquê. Depois de repetir muitas vezes de que não gostaria de falar sobre a aparência do seu marido, já que ela mesma não saberia responder. Ela Psiquê, mesmo lembrando-se do acordo com Eros, não resistiu e acabou revelando o segredo do casal. As irmãs possuídas pela inveja, a todo custo, tentam convencer Pisiquê a ver o rosto de Eros. Alegam que provavelmente ela está dormindo com um monstro. – Do contrário para que tanta proteção sobre a aparência do marido?
Psiquê volta ao palácio e fica curiosa por algum tempo, mas continua resistindo a tentação de ver o rosto de Eros. Até que chega uma noite, onde as resistências de Psiquê se esvanecem, e seu esposo Eros dormia o sono dos satisfeitos e muito tranquilo. Psiquê se levanta de madrugada, ascende uma vela e vai examinar o rosto de Eros. Ela fica paralisada com tamanha beleza. Além disso fica encantada pelos poderes da flecha de Eros, que os feriram de amor e paixão. A cera quente produzida pela chama da vela esqueceu de paralisar e caiu sobre o rosto de Eros, que dá um pulo da cama e percebe a “traição” da esposa que ele tanto ama e parte voando veloz para o Olimpos, com a firme intenção de nunca mais voltar, já que seu único pedido a esposa não fora cumprido. A Jovem Psiquê, se dá conta do que fizera, entra em pânico e desespero, chora sete dias e sete noites, achando que seu sofrimento trará Eros de volta, mas não, seu choro compulsivo de nada adiantou. Embora os Deuses e Deusas que viam tudo do Olimpo, tenham ficado extremamente penalizados.
Afrodite, soprava fogo pelas narinas de tanta raiva, imagina seu próprio filho, além de não cumprir com o previamente combinado, ainda resolveu se apaixonar por sua inimiga, ainda mais ele sendo um Anjo e ela uma simples humana… Menos mal, agora ela, a Deusa Afrodite, se sentia duplamente vingada, pela suposta ousadia de Psiquê tentar roubar o seu lugar e pela desobediência do seu próprio filho.
A tristeza de Psiquê era tão grande na terra, que começou a afetar o Olimpo. Zeus vendo e sentindo o sofrimento e o desespero de Psiquê, convoca Afrodite e intervêm a favor da sofredora, pedindo uma nova chance, para a jovem apaixonada e em desespero.
As provações de Psiquê
Afrodite em obediência a seu pai Zeus, desce à terra contrariada e propõe que Psiquê, realize algumas tarefas que ela julga impossíveis de serem cumpridas, por qualquer ser humano:
Na primeira provação, Psiquê teria que separar um galpão cheio de sementes de papoulas, misturadas a outras sementes de milho, cevada, ervilha, lentilha e feijão. Afrodite calculou que essa tarefa árdua, deveria afetar a paciência e a beleza da jovem, que acabaria desistindo pela impossibilidade da tarefa em ser cumprida. Psiquê não se intimidou. Seu amor por Eros era muito maior e lhe inundava de confiança. Começou imediatamente a tarefa, já que ela só tinha 24 horas para realizá-la. Como nada escapava aos olhos de Zeus, ele percebeu que tal tarefa era impossível para qualquer ser humano, que não fosse dotado de poderes ocultos. Zeus concluiu que Psiquê não teria a menor chance de recuperar o seu amado. As formigas, penalizadas resolveram formar uma imensa colônia para ajudar Psiquê, que dentro do prazo, entregou a tarefa realizada. Cada semente separada conforme solicitado pela Deusa Afrodite, que diante de tal fato, percebeu que a jovem não ia desistir tão fácil, do seu objetivo, que era reconquistar Eros.
Na segunda provação, Afrodite caprichou mais ainda para dificultar. Ordenou a Psiquê, que conseguisse para ela, um quilo de lã dourada, dos carneiros do sol, que eram enormes, agressivos e providos de chifres afiados e pontudos, ninguém tinha coragem de se aproximar. Eles eram de fato muito selvagens e agressivos, inclusive uns com os outros, davam-se cabeçadas o tempo todo e sem motivos. Afrodite calculou que quando Psiquê chegasse no campo dos carneiros, seria esmagada por eles. A jovem Psiquê, estava deveras em apuros, não via saída. Mas… eis que veio um caniço verde de bambu em sua ajuda e fala para ela esperar o cair da tarde, hora em que os carneiros se recolhem, saciados e cansados. Nessa altura o momento seria mais propício para a realização da tarefa. Psiquê segue o conselho do caniço e colhe os fiapos de lã dourados, enquanto os carneiros exaustos cochilam. Entrega-os a Afrodite, dentro do prazo estipulado. Afrodite, se sente derrotada, sem entender de onde vem tamanha força, coragem e determinação.
Na terceira provação, Psiquê tinha que encher uma jarra de cristal, com a água do regato proibido, o regato era inalcansável, caía em forma de cascata, do pico do mais alto rochedo, não se podia subir por ser muito íngreme, não se podia alcançar a água que caía distante dos paredões do rochedo. A água caia nas profundezas do mundo subterrâneo cujo acesso era impensável. Psiquê não desiste. Embora saiba muito bem que essa tarefa, além de não ser fácil, é muito perigosa. A jovem Psiquê sobe pela encosta até onde é possível, e fica pensando numa estratégia para cumprir sua tarefa. O tempo dos humanos é linear e por isso mesmo passa. A jovem em desespero, não consegue pensar em nada que pudesse resolver a situação. Eis que uma águia, que tudo acompanhava, resolveu solidarizar-se com Psiquê, diante daquela difícil situação que ela se encontrava. A Águia tomou a jarra de suas mãos e a devolveu cheia de água da fonte proibida. Quando Afrodite recebe a jarra, fica incrédula com a perseverança e se perguntando de onde vinha toda essa coragem da jovem. Enquanto isso os Deuses do Olimpo vibravam a favor de Psiquê a cada tarefa realizada.
Na quarta provação, Afrodite tenta matar toda e qualquer esperança que Psiquê ainda pudesse ter. Ordenando que ela desça ao mundo avernal ou subterrâneo, para pegar a caixinha de pandora da Deusa Perséfone, esposa do Ades que é o terrível deus da morte. A caixa em questão, está bem segura sobre a penteadeira de Perséfone. Simplesmente era impossível adentrar nesse aposento e de lá sair viva. Psiquê não desiste, ela tinha uma meta, trazer seu amado de volta. Então ela desce ao mundo avernal e fica na porta do palácio, planejando uma estratégia, de como entrar no palácio, ir ao quarto de Perséfone e de lá sair incólume. Com o seu coração na mão, aguarda, alguma intuição, inspiração, aspiração para lá entrar, sair viva e cumprir sua quarta e última tarefa impossível. Uma das torres do castelo, sopra no ouvido de Psiquê, o segredo de como entrar e sair viva do castelo de Ades e Perséfone. A torre deu-lhe a planta do interior do castelo para que ela fosse célere. Psiquê dispunha apenas de cinco minutos, para fazer o que tinha que ser feito. Nesse horário algumas luzes do castelo eram apagadas e ficava na penumbra. A torre pediu que a jovem passasse e repassasse o trajeto, antes de entrar, do contrário pereceria no mundo avernal, por toda a eternidade. Punição imposta pelo Deus Ades, para quem ousasse invadir o seu palácio.
A Deusa Afrodite bem sabia que ninguém jamais invadiu aqueles aposentos e de lá saíra para contar a história. A jovem Psiquê se preparou e no momento propício partiu disparada em direção a penteadeira da Deusa Perséfone, que possuía todos os segredos da beleza feminina, na sua caixa de Pandora, agora desejada por Afrodite. A jovem chega na penteadeira e logo avista o pequeno objeto cobiçada, corre em direção à saída e consegue escapar no prazo previsto. O que não foi dito para a jovem, é que a caixa de Pandora provoca uma curiosidade mortal, num grau insuportável para um humano e só as deidades poderiam abrir essa caixa de segredos.
-O que será que tem nessa caixa de Pandora de tão especial?, pergunta-se curiosa a nossa heroína.
A torre que antes lhe aconselhara, pediu para que ela não abrisse a caixa em nenhuma hipótese, do contrário, o humano que abrisse essa caixa entraria num sono profundo por toda a eternidade. A jovem continua levando a caixa para a Deusa Afrodite, mas como era de se esperar, chega num ponto que ela não resiste e abre a caixa de Pandora. Imediatamente a mãe terra e os Deuses do Olimpo suspiram e lamentam.
-Psiquê cumpriu todas as tarefas que pareciam impossíveis, nadou por todos os oceanos e veio a morrer na beira da praia? Era o que todos os Deuses do Olimpo se perguntavam.
Eros o Deus e esposo apaixonado, vendo todo o esforço da sua amada vai até o seu avô Zeus e pede sua intervenção mais uma vez. Zeus está diante de uma situação inusitada, já que Psiquê é humana e Eros é um anjo e um Deus ao mesmo tempo..
-Vá buscar a sua esposa, traga-a para o Olimpo. Ordena Zeus.
-Como eu faço isso, nenhum humano antes adentrou ao reino do Olimpo? E a minha mãe, quem irá aplacar a sua fúria? Quer saber Eros.
-Deixe tudo por minha conta, vá, desperte-a e traga-a. A partir do momento que você assim o fizer, Psiquê será a décima terceira Deusa do Olimpo. Já que ela desposou meu neto e lutou bravamente por ele, vencendo todas as provações que lhe foram impostas por minha filha Afrodite. Uma alma que assim procede, merece ascender aos céus, concluiu Zeus. Nesse momento as formigas que ajudaram a separar os grãos, o caniço que ajudou na colheita de lã, a águia que encheu a jarra de cristal e a torre do castelo de Ades, aplaudiram de pé o desfecho da história.
Eros agradece ao seu avô, desce num voo rasante e veloz até a terra, pega Psiquê nos seus braços fortes e a transporta-a para o Olimpo ainda dormindo. Chegando ao seu palácio, desperta Psiquê com um cálice de ambrósia que era o néctar dos deuses. Um beijo desperta a guerreira, que agora não é mais a Psiquê humana, e sim, a Deusa Psiquê. O belo casal foi, é e será feliz para sempre por toda a eternidade.
Yogod faz uma pequena pausa…a plateia começa a aplaudi-lo, ele aguarda um pouco e continua…Vocês devem estar se perguntando por que eu escolhi a história que acabo de lhes contar? Já que existem tantas outras histórias mitológicas tão bonitas, algumas até mais bonitas do que essa…
-Bem, devo dizer novamente, que essa história me toca profundamente e de uma maneira muito particular. Os mitos estão presentes em nossas vidas, cada um de nós somos heróis, deuses e vilões da nossa própria jornada. Para aqueles que querem e tenham a coragem de amar e conhecer o amor profundamente, prepare-se muito bem para viver uma tragédia carregada de sofrimento. O amor é maravilhoso e ao mesmo tempo muito cruel, de uma certa maneira é isso que a história de Eros e Psiquê nos alerta. Psiquê na língua grega significa alma, que anseia por amar e através desse amor, realizar a sua missão de subir a escada posta entre a terra e o céu. A alma nem sempre está preparada para sentir e manifestar esse amor, no caso da nossa personagem, tinha em si muita curiosidade humana, que a derruba por duas vezes dessa escada de ligação. A primeira ao querer ver o rosto de Eros, traída por um minúsculo pingo de cera da vela que ela usara para ver no escuro, que protegia o segredo que ela compartilhava com o seu amor. Indica-nos essa história que quanto mais profundamente amamos, maior é o nosso sofrimento. Só pode amar de verdade, quem está pronto para isso, passar por um processo de purificação, simbolizada na nossa história, pelos desafios impostos, pela Deusa e sogra de Psiquê, a Deusa Afrodite. Quando Eros propõe que a sua amada não o veja completamente, ela não pode vê-lo na claridade da luz do dia. Não é isso que acontece no início dos nossos relacionamentos? Quando nos apaixonamos? Quando nos enamoramos mais de nós mesmos, como a um reflexo no espelho. No escuro, início dos nossos relacionamentos, pouco podemos ver de nossos parceiros. Quando nossa heroína, parece feliz, vem a dúvida, a desconfiança, provocada pela inveja de suas irmãs. A dúvida dá luz a curiosidade, atributos humanos. Há quem diga que a Psiquê foi imprudente, traiçoeira, desconfiada. Eu diria que ela teve necessidade de conhecer melhor o seu amor. Conhecer melhor o nosso amor, significa transcender a fase da paixão, ver até onde podemos chegar, constatar que o amor não tem limites, amar de verdade o que o outro é, sem querer modificá-lo. Quem de nós empreende essa empreitada sem dor e sofrimento?
Eros esconde de Psiquê a sua verdadeira identidade. Wle não quer ser conhecido completamente por ela, protege o seu rosto, que simboliza as nossas máscaras e identidades. Psiquê certamente não estava completamente feliz naquela zona paradisíaca de conforto, muitos outros mitos abriram mão dessa zona de conforto, já que aí não há evolução. Ela queria ir mais fundo, conhecer melhor, quebrando assim o pacto de núpcias, que lhe traz consequências. Sabia a jovem Psiquê, que o verdadeiro amor não aceita barganhas, condições ou expectativas e para cada expectativa que cultivamos, somos açoitados pelos dolorosos chicotes da frustração. Por outro lado, não é possível ir mais fundo no amor ou seja lá no que for, sem consequências. Não correr riscos é prudente, mas aí não há vida. O sonho de uma vida perfeita desaparece, Psiquê acorda, caindo numa tragédia das tarefas impostas por Afrodite, a deusa do amor.
Se você tem um objetivo, alcance-o, mas, nunca espere alcançá-lo sem esforço. Quanto mais elevada for a sua meta mais será exigido disciplina, determinação e austeridade de você. Você não está sozinho, tem as formigas que podem ajudá-lo, elas simbolizam o trabalho, tem o caniço de bambu que pode ensinar o caminho da flexibilidade, o momento propício, tem a águia, que simboliza o coração, nos momentos de desanimo, quando nos encontramos a beira do precipício e somos possuídos pelo medo, o coração, nos assopra no ouvido, “Você tem asas, pule, mergulhe, você pode voar”. Finalmente, temos a torre simbolizando o sábio, que nos encontra quando estamos preparados. Sempre disposto a nos ajudar, a nos provocar no caminho da autotranscendência, quando estamos letárgicos e prontos para nos acomodar ou desistir. A realidade e a perfeição não se avizinham. O que julgamos perfeito está em evolução. Essa história maravilhosa de um dos mitos da Grécia, talvez queira nos dizer que há algo mais além no humano e esse algo mais é a alma ou Psiquê que deve atravessar a ponte que liga o Humano ao Divino. Ligação as vezes negligenciada por terapeutas e profissionais de saúde.
Para concluir, esperando que eu não tenha me alongado mais que o necessário, temos que transcender o amor possessivo, o amor pelo poder, o amor humano, o amor do toma lá dá cá e alcançar o amor incondicional por Deus, que é próprio da alma humana, que é próprio dos Deuses.
Yogod viu um guerreiro vencedor, num campo de batalha, admirou a força, a determinação, a coragem e o carisma daquele guerreiro que nada temia. O nome do guerreiro era Bharata, um dos irmãos do arqueiro Rama, o melhor arqueiro que já pisou sobre a terra, atingia com suas flechas certeiras, qualquer alvo, não era atoa que o chamavam de arqueiro de Deus. Rama era muito amoroso, compassivo, benevolente, iluminado, já que ele era uma encarnação do Deus Vishnu (O Deus da manutenção), que desceu a terra para destruir um demonio chamado Ravana, que tinha seu reinado na ilha de Lanka, conhecida hoje em dia pelo nome de Sri Lanka..
Rama sería o sucessor natural do seu pai, o Rei de Ayodya, Não fosse as intrigas maquinadas por sua madastra, mãe do guerreiro Bharata. Rama se refugia na floresta com sua esposa Sita e com o seu irmão Lakshamana, no momento da partida os súditos e os nobres choram de tristeza, pois sabiam que Rama seria um Rei justo e sábio para Ayodya. Bharata, foi chamado as pressas para sentar-se no trono que pertence-ra a seu pai, que estava em idade avançada e sem condições, de carregar sobre os ombros o fardo da governabilidade de e conter as intrigas da sua côrte.
Bharata retorna do campo de batalha e nada entende, do que estava acontecendo, queriam que ele fosse o Rei de Ayodya e tudo o que ele queria, era lutar nos campos de batalhas em torno de Ayodya. Rompe com a sua mãe, que ambicionava ver seu filho no trono, provocando assim, todo mal estar que se formara. Bharata vai atras de Rama, encontra-o na floresta e suplica que o querido irmão volte e assuma o seu posto, que seria o trono de Ayodya. Rama estava tranquilo quanto à decisão de viver na floresta, diz a Bharata que está tudo bem, solicita que este retorne para assumir o trono. Bharata ajoelha-se aos pés de Rama, diz que é um guerreiro, que não saberia como governar, que não se sente capaz, que vai ser muito infeliz, já que ele é um guerreiro e que seu trono está nos campos de batalha…
-Entendi. interrompe Rama e pondera que terá que viver na floresta por 13 anos, que esse foi o pedido de seu pai, que ele irá honrrar o seu pai obedecendo-o. Tira suas próprias sandálias e coloca diante de Bharata. -Governe para mim, propõe Rama, governe por treze anos, faça o melhor governo que você puder…daqui a 13 anos retornarei e assumirei o governo. Bharata olha incrédulo dentro dos olhos do seu irmão, se enche de confiança e retorna para assumir o papel que lhe fora destinado pelas circunstâncias. Dizem que Bharata, governou por treze anos de maneira perfeita e irrepreensível. dizem também que ele colocou as sandálias do irmão Rama aos pés do trono e que jamais sentara lá.
Rama, Sita e Lakshamana chegam na floresta, constroem uma casa de madeira confortável, fazem amizade rapidamente com os pássaros e outros animais da vizinhança. Estavam muito bem, felizes, até que desafortunadamente…Ravana considerado o Rei dos demônios, estabelecido no sul da India, na ilha de Lanka. Resolve dar um passeio na sua carroagem voadora, justo na floresta onde nossos heróis viviam. Ao avistar Sita, a esposa de Rama, Ravana se apaixona, era um demônio dotado de bom gosto, já que Sita era a mais bela jovem que a India já conhecera. Esse demônio poderoso e por todos temido, resolve sequestrar Sita, com a intenção de levá-la para o seu harém em Lanka. Para termos uma idéia, Ravana o demonio em questão possuía dez cabeças, vinte braços e só de olhar para ele, muitos morriam de medo, ele era tenebroso e muito, muito feio. Não havia inimigo que não tombasse vencido aos seus pés, Ravana não temia a ninguém desse mundo ou do além.
A nossa bela princesa, cai nas inúmeras garras da fera apaixonada, ela grita por socorro em vão, se esforça por resistir, todos os pássaros e animais ouviram os gritos de pavor de Sita, nada podiam fazer. Para que seu esposo Rama, tivesse noção do trajeto do demônio, sita vai jogando suas pulseiras, anéis, tornezeleiras, contas de colares pelo chão, enquanto isso o carro de Ravana voava veloz sobre a floresta.
Uma águia muito amiga do casal, que se chamava Jatayu, segue a carruagem e tenta bicar o demonio em vão, Já que a carruagem do demonio era muito veloz e muito bem protegida. A águia corajosa, perde uma das asas cortada, pela espada afiada, venenosa de Ravana, que dá um grito no ar mostrando satisfação, enquanto a águia Jayatu cai sofrega no chão. Os que atacam Ravana, morrem logo sem perdão, foi o que a águia disse, agonizando no chão, quando Rama a encontrou caída, Rama é todo gratidão, encaminha a alma da ave, através de suas orações, a águia logo tem a percepção de que aquele que ali orava, era do Deus Vishnu encarnação, que desceu aqui na terra, para vencer os demônios, que perseguem inocentes, que tentam e atentam as almas em ascenção. O pássaro ferido, não consegue resistir, morre sereno e tranquilo, começa a subir aos céus, atravessando um véu, que a leva ao nirvana, certa de que morreu a serviço do Deus Rama, deu-lhe pistas de Sita, apontando a direção que a carruagem tomou, com Sita e o seu sequestrador. Jayatu voa veloz, no seu último voo, pousa aos pés do Deus Vishnu e se dissolve na luz.
Rama e seu querido irmão Lakshamana, vão em socorro de Sita, atravessam montanhas, vão abrindo caminho e atrás dos dois guerreiros, um exército de macacos, que sabiam muito bem, que Ravana não se entrega e não tem medo de ninguém. O entusiasmo dos macacos, contagiavam os ursos, elefantes, cobras, lagartos e tantos outros animais que não dá para enumerá-los. Quando Rama e seus amigos, chegam no extremo sul, eis que surge diante deles, uma barreira intransponivel, o imenso mar, que bloqueia o caminho, que ainda que sem querer, proteje o reinado, do demonio Ravana. Coragem Rama tem de sobra, não tem carruagem voadora, não tem barco, não tem balsa, para resgatar Sita, Rama e seu exército tem que vencer o mar, para chegar ao inimigo, que sequestrara Sita.
Enquanto isso Ravana, intenciona conseguir conquistar o amor de Sita, tenta ser paciente, tenta se acalmar, já que sua sequestrada, desde que chegou, não mais parou de chorar. Rama por sua vez, faz orações junto ao mar, para que o Deus do oceano, venha lhe ajudar. O rei do mar repousava, e quando isso acontecia, ninguém podia incomodar. As preces de Rama eram fortes, todos sabem que quando ele ora, todos podem escutar. O rei do mar se incomoda, com aquele pedido de ajudo, já que naquele momento, tudo o que ele queria era somente descansar, pede então para as suas ninfas tocarem uma canção melodiosa, que lhe pudessem ninar. Nosso principe ouve a melodia vinda do fundo do mar, mas isso não interrompe nem impede, nosso príncipe de orar.
Quando Rama percebe, que o Deus do mar não quer, as suas preces atender, saca do seu arco e flecha certeira é atirada no mar, atinge o ombro do deus do mar, que só então percebeu, que aquele que o feriu, era um Deus poderoso, sobe rápido e clama ; – Não atire grande Rama, desde já peço perdão, por eu ter ignorado, suas sinceras orações. Sou um Deus menor dos mares e agora vejo claro, que toda a criação está sob seus cuidados. Seu coração está triste, sei que Sita está em Lanka, tudo isso eu bem sei, diga o que posso fazer? devo secar o oceano? Quantos seres morrerão? Isso nem pensar, diz o rei do mar. Nossos peixes brincalhões, marinheiros, pescadores, baleias, golfinhos, sereias, não. Não posso secar o mar.
-Tem razão disse Rama, sua raiva de Ravana arrefeceu com os argumentos do Deus do mar. Deve haver outra maneira, nós temos que atravessar, minha Sita está sofrendo, não gosto nem de pensar. Enquanto assim falava, massageava o ombro do Deus do mar, que prontamente cicatrizava, ao ser completamente curado. Eis que o Deus do mar teve uma grande idéia, a de construir uma ponte dali até a ilha de Lanka, destino que Rama almejava… -Joguem pedras, galhos e tudo que puderem no mar, com os meus poderes ocultos, farei tudo flutuar.
Lakshamana então protesta, isso não dará certo, vai ser muito demorado, não podemos esperar. Rama rápido retruca, caso você não tenha, uma idéia melhor, eu concordo com você, não podemos esperar, então não esperaremos, joguemos tudo no mar, disse rama animado. Já que tudo que joguemos, está fadado a boiar, faremos uma grande ponte, vamos atravessar o mar e quando chegarmos a Lanka, lutaremos bravamente para Sita Libertar.
Os ursos, gorilas, macacos e outros tantos animais, jogavam pedras, pedaços de madeiras, todos trabalharam na ponte, do pequeno beija-flor ao gigante elefante, até mesmo um pequeno esquilo marron, lambuzava-se na terra e mergulhava no mar, para levar a terra entranhada nos seus pelos espessos. Rama vendo essa cena, encheu-se de compaixão, acolheu o esquilo na palma da sua mão.
-Meu amor e gratidão meu amigo, todos aqui serão lembrados quando a ponte estiver pronta. Acariciou o esquilo, o rastro do carinho dos dedos de Rama, ficaram impressos no dorso do pequeno esquilo, considerando sua ajuda indispensãvel, a partir desse dia, todos os esquilos do mundo, carregam as listas da mão de Rama inpressas nas costas.
Ravana por sua vez, quase morreu de rir, quando seus espiões, mencionaram o projeto de Rama, que era construir uma ponte unindo a India a Lanka. Esse Rama enlouqueceu, resmungava o demônio… -Rama morre de velhice, antes de chegar a Lanka. De onde vem tanta ousadia? Perguntava-se Ravana. No dia seguinte cedo pela manhã, a ponte feita pelo exército de Rama, tocava o porto de Lanka.
O demonio perturbado, com a ponte concluida, preferiu enfrentar Rama numa batalha sangrenta, a devolver sua prisioneira, Sita. Macacos, Elefantes, Ursos, cobras, lgartos, pássaros e Lakshamana contra o exército do mal. Ramana contra Ravana, o resultado já sabemos, Ravana e seus demonios, foram todos destruídos. Rama liberta Sita e faz da ilha de Lanka um oásis, um paraíso de felicidades. Passados treze anos, Sita e Rama se despedem, pegam a carruagem voadora, que antes pertencia a Ravana e retornam para Ayodya, onde Rama é coroado pelo seu Rei interino, seu irmão Bharata, que cuidara do Reinado, com justiça, diligência e esmero, para entregá-lo ao irmão. Nasce a idade de ouro, do reinado Sita e Rama, que todo poeta cantou, canta e cantará. Já que nesse reinado, quem sentou no trono, foi o rei do amor.
Yogod, fica enebriado com a história da India que acabara de sonhar. Admira o guerreiro Bharata, tendo que sair do campo de batalha, para assumir a função de Rei que ele nem sequer gostava. Quão beenevolente é o Deus Vishnu, que desceu à terra, para vencer Ravana num campo de batalha, ao invés de ficar lá no céu, acompanhando os acontecimentos terrenos. A entrega de Lakshamana para servir seu irmão…Yogod suspira emocionado e o seu despertador toca e Yogod acorda entre feliz e atordoado.
Yogod vivia em paz e muito tranquilo, num dos vales mais bonitos da região, com o seu belo rebanho de ovelhas. Ele era um homem solitário, ordenhava, tosquiava, tecia sua lã, fazia queijo e vendia seus produtos para a amistosa vizinhança. Yogod era um privilegiado, vivia num belo recanto da região, cercado de velhas oliveiras, cuidava do seu belo jardim nas horas livres, essa atividade de cuidar de suas flores, lhe era muito relaxante, algumas árvores frutíferas e água em abundância. Todos que o visitavam, se encantavam com a beleza do lugar e o elogiavam. Um pequeno Paraíso, cercado de montanhas, com diferentes pássaros cantando ao longo do dia. A noite era uma beleza, via-se claramente todas as constelações e nebulosas. Porém…eis que um dia, a paz do pastor foi perturbada por um estranho sonho. Yogod sonha que vende suas ovelhas e vai em busca do seu tesouro. Carrega um mapa na mão, avista uma grande ponte, que faz fronteira com o seu país, numa das pilastras dessa ponte, tem um xis de acordo com o seu mapa, indicando para Yogod, que ali está o seu tesouro. Ele começa a cavar no lugar indicado e finalmente se depara com um baú, todo cravejado com pedras semipreciosas, quando Yogod desenterra o baú completamente, vai abri-lo e ele desperta. Tenta dormir novamente, tentando dar continuidade ao sonho. Nada, tentativa frustrada, não consegue. O sonho que tivera, permanece nítido, a paisagem, o mapa, a ponte, tudo passa com muita precisão na sua cabeça. Ele se levanta e desenha o mapa, exatamente como seu sonho lhe indicou.
A partir desse sonho, o pastor Yogod, já não era mais o mesmo, algo dentro dele se quebrara. Fazia seu labor, pensativo e sem grandes prazeres. Não, definitivamente mudara, já não era mais o mesmo. Tentava em vão interpretar o que aquele sonho estava querendo lhe dizer…sabia que ele era importante, mas não sabia por quê. Yogod disse para si mesmo, que aquilo era apenas mais um sonho como outro qualquer. Tentando desta forma reencontrar a paz perdida, pelas perturbações e turbulências que o sonho do tesouro perdido lhe trouxera. Com o tempo e aos poucos, Yogod foi se entregando à rotina do seu dia a dia, quando estava quase praticamente recuperado, o mesmo sonho se repete, com pequenas modificações, desta vez mais nítido e vívido, do que da vez anterior.
O mapa é o mesmo, a ponte, a indicação do tesouro, o mesmo baú cravejado de pedras semipreciosas, quando ele está desenterrando o baú, tem a nítida percepção, que há alguém sobre a ponte lhe observando. Yogod não consegue ver quem o observa, mas sabe que alguém o faz, ele ignora o seu observador, quando vai abrir o baú acorda novamente, como acontecera na noite do sonho anterior. Yogod fica muito irritado por ter acordado, impaciente e indócil, tenta dormir novamente para dar continuidade ao sonho, quer muito visualizar o conteúdo do baú…nada. Não consegue, rola na sua pequena cama para lá e para cá e isso só o deixa mais irritado e impaciente.
Yogod pega o mapa que desenhara, tendo como base o seu primeiro sonho. Confere mentalmente o mapa do segundo sonho e percebe que os trajetos que fizera, eram exatamente iguais, para chegar à ponte sob a qual estaria o seu tesouro. Desta vez o pastor fica bastante abatido, já que da outra vez, com muito esforço ele conseguiu convencer-se de que aquilo era apenas mais um sonho, como outro qualquer…mas, e agora? O mesmo sonho repetido, pela segunda vez, por mais que ele tentasse não conseguia se convencer que era apenas mais um sonho, ficou deveras abalado. Repetia para si:
-É impossível que esse sonho, não esteja querendo me dizer algo muito importante. Mas o quê? O quê?
Yogod não consegue esquecer os sonhos, estes passam a ser a sua realidade, já que tudo o que ele faz, o sonho, a estranheza que ele causa estão ali presentes e lhe perturbando. Yogod já não tem mais alegria, já não cuida do seu jardim como antes, já não tem disposição de ir para a cidade vender a sua mirrada produção. A sua casa que antes era muito bem cuidada, agora cada vez mais ia ganhando aparência de uma simples cabana. Roupas sujas, louças por lavar, baratas, cupins…Yogod já não conseguia apreciar a paisagem, contemplar a lua e as estrelas. Foi se tornando uma pessoa amarga, nada tinha graça na vida de Yogod, até mesmo o seu rebanho de ovelhas era afetado por seu humor e má vontade.
– Basta! diz Yogod determinado. Isso não pode continuar, tenho que retomar minha vida. O que é isso? Chega de bobagem por causa de sonhos….
Depois de muito tempo e muito esforço, Yogod foi retornando a sua rotina, cuidando melhor do seu rebanho, da sua casa, do seu jardim, foi ficando mais contemplativo, mais presente. Yogod se sentiu como se estivesse se recuperando de uma enfermidade.
-Pronto, agora estou praticamente curado, dizia Yogod, olhando a sua volta. Sem mais nem menos, veio sem aviso o mesmo sonho pela terceira vez…
O terceiro sonho foi exatamente igual aos dois sonhos anteriores, com acréscimos no final. Yogod sonha que vende suas ovelhas, e parte com o velho mapa do seu tesouro nas mãos, encontra a ponte e a pilastra sinalizada com um xis no mapa, cava, encontra o baú cravejado, abre correndo com medo de acordar… E lá está o seu tesouro, seu rosto se ilumina pela luz dos diamantes, outras pedras preciosas e pela luz da sua alegria. Yogod abre o seu melhor sorriso, Puro êxtase… Sem pressa, Yogod fecha o baú que guarda o seu tesouro e acorda…acordou bem diferente desta feita. Animado, Yogod não tem dúvida de que aquele sonho é muito importante para ele. Ao levantar-se naquela manhã, não perde mais tempo. Vende o seu rebanho, alguns pertences, para empreender a sua viagem em busca do seu tesouro, que o espera sob a ponte. Fecha a sua casa e põe o pé na estrada, seguindo o mapa que desenhara. Depois de caminhar por sete dias, Yogod se depara com a ponte, que até então ele não sabia da existência, lá está a velha ponte lhe esperando…é a mesma ponte que lhe aparecera nos seus três sonhos. Yogod identifica a pilastra onde supostamente o seu tesouro está enterrado. Yogod lembrou-se do segundo sonho, que tinha alguém que o observava, agora ficou tudo claro para ele. Tudo fazia sentido, a ponte que faz divisa com o seu país, tem um guarda que caminha para lá e para cá, um vigia de fronteira, que observa aquele andarilho desconfiado. Yogod acampa de olho nos guardas que se revezam.
-Como cavar ao pé da pilastra sem chamar a atenção da guarda? – Parece impossível. Pondera Yogod
Depois de três dias acampado, sem encontrar uma brecha de descuido dos guardas da ponte, para que Yogod cavasse e pusesse as mãos no seu tesouro, ele resolve fazer amizade com um dos guardas, que era mais amistoso. Depois de muita conversa, de muitos chás, Yogod resolve se abrir e compartilhar os seus três sonhos com o guarda que se tornara seu amigo. Quando Yogod acabou de contar o seu sonho que se repetia, motivo pelo qual ele vendera o seu rebanho, e ali estava pronto para botar a mão no seu tesouro. O guarda simplesmente não consegue se controlar, explode em altas gargalhadas. Depois de ficar bem vermelho e chorar de tanto rir diz:
-Desculpe, ainda rindo…eu não devia estar rindo do seu sonho, é que não consegui me controlar….Desculpe.
-Do que você ri? Pergunta Yogod. – Não contei nenhuma piada, apenas lhe contei meus sonhos….
-Desculpe, mais uma vez, tenta o guarda ainda rindo muito. -É que não posso acreditar que você seja tão louco, de abandonar uma vida boa e estável como a que você diz que tinha, para correr atrás de um sonho. O guarda parou de rir, olhou sério para Yogod e diz:
-Vou lhe contar uma coisa tão engraçada quanto a que você acabou de compartilhar comigo:
-Eu tive uma trilogia de sonhos, muito parecidos com os que você acaba de me contar… Há pouco tempo. Muda só a paisagem, no mais é exatamente igual. Parece irônico ou que o destino quer nos pregar uma peça. No meu primeiro sonho, eu dou baixa no quartel e viajo com um velho mapa, por sete dias e encontro o meu tesouro num vale muito bonito, cercado de oliveiras, um jardim muito bem cuidado…as noites são belas, claras, iluminadas pelas estrelas, vejo no meu sonho uma casa azul claro, com portas brancas, uma varanda de onde se pode ouvir o canto da passarada e o murmurar de um riacho. Vejo duas enormes Jaqueiras carregadas de frutas e muitas ovelhas…O engraçado é que o meu sonho indica que o meu tesouro, está aos pés de um velho fogão a lenha, que tem uma cabeceira mais alta. Por dentro do fogão passa uma serpentina que é usada para aquecer a água. Bem, o meu mapa indica que o que eu procuro está enterrado aos pés do fogão, considerando-se que a parte mais alta é a cabeceira. Quando encontro o meu tesouro no primeiro sonho, que consiste numa arca como a que você descreveu no seu sonho, exatamente igual… Quando vou abri-la, acordo. Não posso ver o que há dentro da arca. No segundo sonho repetido….
-Pare! Interrompe Yogod. – Você descreveu a minha casa, a minha paisagem, como você pode saber se eu nunca lhe falei? Pergunta Yogod assustado
-Amigo, isso é apenas um sonho, se coincide com a sua paisagem, talvez seja só uma coincidência…Desenhei o mapa já que no dia seguinte eu me lembrava nitidamente do sonho com cada detalhe…Aí pensei, isso é só um sonho…continuava falando o guarda.
Yogod, já não podia ouvir mais nada do que o guarda dizia…Como é que esse guarda sabe descrever em detalhes, a paisagem que cerca a sua casa? A sua casa… As cores, as portas, as mangueiras carregadas de frutas, as ovelhas, seu fogão com serpentina para aquecer a àgua… Ele jamais comentara nada com o vigia a esse respeito.O pastor deixou o guarda falando sozinho e partiu correndo…
-Ei! Venha cá esse foi só o primeiro sonho, ainda faltam dois para completar a trilogia…Disse o guarda, rindo e sem entender a fuga inesperada de Yogod.
O pastor sabia muito bem, o que o guarda tinha para lhe contar, não podia mais perder tempo, juntou seus pertences às pressas e retornou correndo o mais rápido que podia para a sua casa. Quando chegou muito cansado, na sua casa, cavou no lugar indicado pelo sonho do guarda da fronteira, e ali estava o seu tesouro, exatamente como ele viu no seu terceiro sonho. Uma arca cravejada com esmeraldas, rubis, topázios e outras tantas, o pastor abre a pequena arca e não acredita que acabara de encontrar o seu tesouro. que viajara tão longe, enquanto o seu tesouro o aguardava por todo esse tempo ali mesmo. Yogod se belisca algumas vezes, para certificar-se de que aquilo que está acontecendo é real, e não mais uma peça que seus sonhos estão lhe pregando. Yogod começou a gritar repetidas vezes, feito um verdadeiro louco:
Um casal de perdizes estava para sair de viagem. Antes de partirem, a ave fêmea deixou alguns ovos perto do oceano. Então o marido disse para o mar, “Nós estamos indo viajar. Você tem que tomar conta dos ovos para nós. Se não encontrarmos os ovos quando voltarmos, iremos esvaziá-lo.” O mar concordou em tomar conta dos ovos. Alguns dias depois, as perdizes voltaram, mas não conseguiram encontrar os ovos. Eles começaram a gritar com o mar. O mar queria devolver os ovos, mas não conseguia encontrá-los. Os pássaros ficaram bravos e começaram a esvaziar o mar, carregando gota por gota para terra. “Nós vamos esvaziá-lo,” eles disseram para o mar. Alguns pássaros observaram o que estava acontecendo e decidiram ajudá-los nessa nobre causa. E isso continuou por dias e semanas. Certo dia, o cocheiro do Deus, Garuda, veio à Terra e perguntou, “O que vocês estão fazendo?” Os pássaros responderam, “Não está vendo? Estamos esvaziando o mar.” “Seus tolos, sabem quanto tempo levará para isso? Vocês nunca serão capazes de fazer isso. O mar é muito vasto e infinito,” disse Garuda. Mas os pássaros responderam, “Nós temos determinação e perseverança.” Surpreso com a reação dos pássaros, Garuda decidiu contar a história para Deus e ver se Ele poderia ajudá-los a encontrar os ovos. “Deus, eu nunca vi pássaros tão tolos antes. Você poderia ajudá-los?,” perguntou Garuda. Deus respondeu: “Eles não são tolos. Eles estão mostrando o espírito de paciência e perseverança. Dessa maneira os humanos devem esvaziar seu mar-ignorância, gota por gota. O mar ignorância é muito vasto. Mas, se o buscador é sincero e quer substitui-lo pela luz-sabedoria, deve fazer da mesma forma, gota por gota. Por isso, Eu estou muito satisfeito com a atitude dos pássaros e logo irei fazer com que encontrem os ovos.” Deus usou seus poderes ocultos, e imediatamente as perdizes encontraram seus ovos. Deus então disse aos pássaros: “Perseverança, paciência e autodoação são de extrema importância para realizar a missão divina.” Texto de Sri Chinmoy
Quando perguntamos a alguém qual a qualidade espiritual que gostaria de ter na sua vida, muitos vão dizer paz, alegria, felicidade, coragem. Normalmente paciência não vai ser uma delas. Paciência é como a “ovelha-negra” entre as qualidades espirituais, mas, se nós soubéssemos o seu real valor, iríamos colocá-la no topo da nossa lista. Um corredor iniciante comumente comete o erro de começar muito rápido em uma corrida. Então ele percebe que não consegue manter o ritmo por toda prova, começa a desacelerar e por vezes acaba desistindo. Todos que já iniciaram algum esporte devem ter passado por momentos semelhantes. Na excitação por estar na competição, sentimos excesso de confiança, nos consideramos invencíveis, mas sem ter trabalhado o suficiente para tanto. Raramente conseguimos o sucesso em alguma área rapidamente e com pouco esforço. Felizmente ou infelizmente, para alcançar nossos objetivos devemos ter bastante determinação e paciência. Quando vamos competir numa maratona, por exemplo, existem milhares de fatores que podem nos afetar no dia da prova. Mesmo sendo um corredor experiente, você pode acordar em um dia ruim, estar passando mal, não dormir bem. Ou fatos externos, como a temperatura, o clima, organização da prova, etc podem intervir. Depois de meses de treino você aprende que qualquer coisa pode acontecer, mas o que mais importa é como você encara esses desafios. Para muitos corredores, correr uma maratona é uma meta a ser conquistada, mas esse desafio pode se manifestar de diferentes formas. Um ator que deseja ganhar o Oscar, um funcionário que quer abrir seu próprio negócio, um buscador espiritual que deseja se tornar um iogue. Não importam quais forem suas ambições, se você quer um dia realiza-las, precisa adquirir paciência. Nós buscamos atingir nossos objetivos instantaneamente. Como se fosse aparecer um gênio da lâmpada e realizar todos nossos desejos da noite para o dia. Mas as coisas não funcionam assim. Quando perguntamos para alguém que possui sucesso na vida, é comum escutar que a determinação e paciência foram os responsáveis pelo resultado. Eu sei que não é fácil. Quando temos desejo intenso para realizar algo, e as coisas não fluem da maneira que esperamos, rapidamente ficamos frustrados e desistimos dos nossos projetos. Reclamamos da economia, dos políticos, dos amigos. Mas, se conseguirmos olhar as coisas de forma mais ampla, vamos perceber que pequenas ações no passado nos tornaram quem somos hoje. O tempo sempre fica do nosso lado se trabalharmos duro.
“O sucesso às vezes pode vir imediatamente. Mas devemos estar preparados para esperar pacientemente até mesmo para o que pode parecer o tempo infinito. O aluno que estabelece um espírito de perseverança irá certamente encontrar o sucesso e a realização.” – Swami Vivekananda
Ter paciência não significa que devemos ficar sentados no banco da praça jogando baralho o dia inteiro enquanto esperamos que as coisas aconteçam a nosso favor. Significa aceitar a vida e as nossas limitações, tendo consciência que, se agirmos da forma correta, o resultado virá.
Qual é a diferença entre sonhos humanos e o Sonho de Deus?
Há uma grande diferença entre os sonhos humanos e o Sonho divino de Deus. Os sonhos humanos são apenas fantasias mentais. Na maior parte do tempo, são apenas pensamentos fortes, ideias ou invenções. Por vezes nos tornamos vítimas de forças hostis que nos fazem sonhar todo tipo de coisas horríveis. Ou criamos as nossas próprias fantasias, que podem aparecer como sonhos durante a noite. O Sonho de Deus é o Sonho divino que é precursor da Realidade. O Sonho de Deus incorpora a própria Realidade. É como uma tampa sobre uma caixa de joias. Você apenas levanta a tampa, e dentro está a riqueza: ouro e diamantes. Com o Seu Sonho, Deus está adentrando no mundo da Sua satisfação, que é a manifestação constante da Realidade. A Realidade mais elevada é a transformação da natureza humana, que agora mesmo é metade animal e metade divina. A Realidade mais elevada será manifestada aqui na Terra, mas levará vários séculos. Só que isso não quer dizer que ficaremos em silêncio e inativos – longe disso! Se todos os dias navegarmos conscientemente no Barco-Sonho de Deus, então lenta, gradual e infalivelmente esse Barco-Sonho nos levará até a Margem-Realidade de Deus. Essa Margem-Realidade não está em algum lugar no Céu; ela está aqui, na nossa vida, nos nossos pensamentos, nas nossas ações, na nossa própria existência na Terra.
A nossa consciência mais elevada continua operando enquanto dormimos?
Quando dormimos, às vezes a nossa consciência mais elevada continua operando, e às vezes não. Depende se Deus quer que a consciência mais elevada opere, ou se Deus quer que a consciência mais elevada repouse enquanto o físico descansa. Depende completamente da Vontade de Deus. Há muitos buscadores que meditam sinceramente todos os dias. Apenas porque meditaram durante o dia, Deus fica satisfeito com eles e lhes diz: “Minhas crianças, vocês trabalharam muito duro. Durante o dia, vocês oraram e meditaram. Agora eu tenho outros instrumentos que podem poderosamente auxiliá-los. Outras forças podem trabalhar por vocês.” Ele então pede ao eu superior ou aos seres superiores que ajam e auxiliem os buscadores que oraram e meditaram durante o dia. Mas se não oramos e meditamos durante o dia, Deus nunca pedirá às forças superiores que trabalhem por nós. Apenas quando o Piloto interior fica satisfeito com o buscador é que Ele irá pedir às forças superiores que ajudem a pessoa enquanto ela dorme.
Conhecer nossos sonhos nos ajuda a conhecer Deus?
Sim, se forem sonhos bons, sonhos inspiradores, certamente ajudarão. Mas se forem sonhos não divinos, eles não nos ajudarão. Se alguém estiver agredindo você, se estiver no campo de batalha ou se alguma catástrofe estiver acontecendo, saiba que esse tipo de sonho vem do mundo vital e não o ajudará. Mas, se você tem um sonho onde um anjo aparece diante de você, ou se o seu Mestre espiritual o abençoa durante um sonho, ou se enxergar um mar de paz diante de você, lembrar-se desse tipo de sonho naturalmente adiantará o seu progresso espiritual. Portanto, depende do tipo de sonho que você tem. Sonhos que vêm do mundo vital destrutivo não podem auxiliá-lo a fazer qualquer progresso. Mas você pode certamente fazer progresso quando ver coisas divinas ou sentir no próprio sonho paz, luz e deleite em medida infinita.
A Parábola de Yogod ou como despertar a sua alma em quatro dias
por Akrura Bogéa
Um sonho e despertar espiritual
Quero lhes apresentar Yogod, nosso personagem da historia que se segue. Yogod nasceu numa familia um pouco diferente do convencional. Seus pais meditavam, eram vegetarianos, gostavam de música, especialmente de mantras e seguiam as orientações de um mestre espiritual da India. Seus pais tentaram lhe ensinar o que aprendiam…que todas as religiões deviam ser respeitadas, que as pessoas todas, por mais estranhas que pudessem parecer, eram buscadoras de uma conexão com o Ser, e que este Ser estava dentro de cada um de nós. Ensinaram alguns mantras sagrados, orações, exercícios de concentração, respiração e técnicas de meditação. Levaram inclusive Yogod à presença do Mestre quando Yogod ainda era uma criança.
O tempo foi passando, Yogod foi crescendo, perspicaz, estudioso, inteligente. Percebeu que aquele caminho espiritual não atendia as suas necessidades. Já nos primeiros dias de adolescência, descobriu os prazeres da vida. Yogod se sentia livre para buscar e questionar as religiões vigentes. Acreditava que a religião era uma fraqueza da humanidade, e que essa fraqueza dava margens para manipulações. Sempre se perguntava se Deus criou o homem ou se o homem criou Deus; o que veio antes – a mente ou a matéria? Yogod começou a ter pesadelos na sua adolescência, com ondas gigantes querendo afogá-lo, com terremotos sacudindo a terra, com guerras, aviões caindo, incêndios, tufões e outros tipos de catástrofes. Yogod estudou e graduou-se em Psicologia, fez seu mestrado, seu doutorado. Não podia compreender a necessidade das pessoas de terem uma religião que apontava para um Deus assoberbado. Todos lhe pediam tudo. Saúde, alegria, felicidade, fortuna e uma infinidade de futilidades, principalmente. Yogod se dizia ateu, mas continuava a sua busca espiritual, de uma maneira solitária e a seu próprio modo.
Certa noite para variar, Yogod teve um sonho ao invés de um pesadelo. O seu sonho parecia muito real. Sonhou que estava dentro de uma caverna cheia de cristais e ao seu lado estava uma pessoa que fisicamente era exatamente igual a ele, uma réplica, só que mais puro, mais luminoso, e em seguida, veio a descobrir que era muito sábio e que o guiava através do seu belo sonho, respondendo às suas indagações. Yogod ficou encantado com a caverna de cristais! Ele podia tocá-los, já que os cristais estavam ao alcance de suas mãos. Yogod tocou de leve num dos cristais e imediatamente se viu num campo de batalha sangrenta no meio do exército espartano… Tirou a mão do cristal muito assustado e perguntou à sua réplica o que acontecera.
A réplica pacientemente lhe explicou que cada cristal daqueles registrava uma das vidas pregressas de Yogod. Mas a caverna tinha milhares de cristais!…
-Espere, você quer dizer que cada cristal desses registra uma encarnação minha? -indagou Yogod, rindo e incrédulo.
-Sim. respondeu a réplica luminosa. Essa é uma espécie de caverna de memórias de suas vidas passadas e, como você bem pode ver, são milhares de vidas. Todo e cada ser humano tem a sua caverna de memórias. -sorriu a réplica.
-Não entendo…para que tantas vidas? Uma só já não é o suficiente? -perguntou Yogod atônito.
– Às vezes sim, às vezes não. A vida promove relações, atritos, encontros, desencontros, desejos, realizações, frustrações, pendências e principalmente, tudo o que fica pendente gera um karma para a vida seguinte. O que você chama de vida, é um breve espaço de ”tempo” em que a alma reside num determinado corpo, para esperimentar as coisas terrenas. Depois a alma precisa respirar, descansar, já que as experiências terrenas são muito intensas. A alma mesmo, a rigor, tem apenas uma vida, sem início, sem meio e sem fim. -Disse a réplica de Yogod.
Yogod era um pensador desde criança. Precisava usar as suas ferramentas para pensar naquilo que acabara de ouvir. Passado algum tempo Yogod resolveu tocar em outro cristal. Desta vez se viu montado num cavalo branco, numa paisagem européia, com vários amigos, numa caçada. ‘A sua frente, os cães ofegantes corriam atrás de um javali. Aquilo era tão real, ficou tão intenso e insuportável, que Yogod afasta a sua mão do cristal e leva um certo tempo para acalmar a sua respiração e os seus batimentos cardíacos.
-Uau! Tive outra experiência. -Diz Yogod…
-Eu sei, diz a réplica…providenciando o seu almoço? Caçando num campo europeu, não é mesmo? Perseguindo um javali…
-Como você sabe? Interrompe Yogod. – Quer dizer que você viu tudo o que aconteceu quando eu segurei o cristal?
-Mais que isso! Não só vi, como vivi cada experiência de cada cristal desses com você. -Disse a réplica. Eu sou a sua cópia fiel, que fica do outro lado do véu. Todo esse tempo tento um contato com você.
-Ei…Isso que você está dizendo é muito sério…me confunde…que paciência… você não tem mais o que fazer não? -Indaga Yogod rindo.
-Responda você. -devolve a réplica.
Yogod põe-se a pensar novamente, supondo que aquele ser é o que as pessoas religiosas chamam de anjo da guarda, embora sem asas, uma espécie de guarda costas, que te acompanha e supostamente te protege, onde quer que você vá.
-Ok, meu querido sósia…e essa história da alma, sem início, sem meio e sem fim, como funciona?…Onde ela está?… já que não sinto a presença dela e nem ela faz contato comigo?…-Quer saber Yogod.
-Isso é uma pergunta dificil e uma história mais longa …-Diz o ser luminoso, sorrindo. Não posso falar sobre isso agora, já que o seu despertador vai tocar…Ao despertar, sugiro que você prometa a si mesmo, que será a melhor pessoa nesse dia que se inicia, e que terá o melhor dia da sua vida…Antes de dormir hoje a noite, peça simplesmente para sonhar comigo, se assim o desejar. E continuaremos nossa viagem no mundo onírico…-riu…
Toca o despertador, Yogod percebe que tivera um sonho, um sonho significativo, espiritual, tão real, que ele demora a levantar mais que de costume. Pensa e pensa no sonho, no seu significado, no que ele pode acrescentar, lembra-se da sugestão do ser luminoso e promete que será a melhor pessoa possível nesse dia que se inicia e que esse será o melhor dia de sua vida. Levanta se sentindo diferente de quando fora dormir. Sente-se muito bem, alegre, feliz, embora muito reflexivo. Yogod percebeu que aquele dia fora muito especial, uma vez que ele se sentia totalmente conectado com a sua réplica luminosa com que sonhara na noite anterior e não via a hora de encontrá-la novamente no próximo sonho.
O cristal da alma de Yogod (segunda noite)
Yogod faz o pedido para sonhar com a sua réplica, conforme orientado na noite anterior. Mal pega no sono, se vê numa trilha no alto de uma montanha… A paisagem é incomum, com um céu bem azul e luminoso, muitos pássaros gorgeando, uma infinidade de borboletas azuis, até que se vê na entrada de uma caverna de cal. Tudo em volta era branco, com algumas partículas de cal flutuando no ar. Yogod viu a sua réplica luminosa esperando e não conseguiu disfarçar a felicidade que sentia…
-Então, qual vai ser a viagem de hoje? -pergunta Yogod.
-A viagem de hoje será a continuação da viagem de ontem. -diz a réplica.
-Você me perguntou sobre a sua alma, lembra? -Sim, confirma Yogod à sua réplica, que o segura pela mão, levando-o para o fundo da caverna, onde se encontrava mais uma réplica de Yogod, toda coberta de cal.
-Ei! Mas o que é isso? Mais um de nós? Uma estátua de cal? -Quer saber Yogod, atônito.
-Quero lhe apresentar a sua alma, diz a réplica, apontando para a estátua inerte. Sim, ela é e náo é mais um de nós…-sorriu.
-Como assim?…Minha alma é só uma escultura de cal? Por essa eu não esperava! Achei que ela era uma partícula de Deus, um piloto interior, uma imortal com os atributos de Deus. E agora é isso… -decepciona-se Yogod.
-Vê-se que você não é tão ateu assim…-disse a réplica rindo. A alma humana é tudo isso que você falou e muito mais… -complementou. Proponho que você a desperte. Ela está dormindo e inativa, já que ha muito tempo você não dá a mínima para ela. A alma se alimenta de orações, mantras, pranayamas, meditações, bons pensamentos, boas ações e conexões, principalmente. Eis aí um sábio adormecido e, mesmo adormecido e supostamente inativo, ainda assim, sabe de tudo o que se passa no mundo dos humanos, que é o mundo exterior (na maioria das vezes) e sabe tudo sobre o mundo interior, que é o mundo espiritual. Esse é o seu melhor instrumento de conexão. Vou me despedir aqui, já que você não vai mais precisar de mim, por enquanto. Quando você despertar a sua alma, voltarei. Desperte sua alma e você terá tudo ao seu alcance.
Espere, não faça isso! Como assim? Você não pode ir embora assim… Você propõe que eu desperte a minha estátua de cal…quer dizer, a minha alma, mas eu não faço idéia de como fazer isso. -Reclama Yogod, já sentindo falta da presença de sua réplica, a qual ele se apegara.
-É muito fácil e ao mesmo tempo muito difícil. E sim, você sabe como despertá-la. Talvez você tenha esquecido. Gostaría de ajudá-lo, mas não posso. Isso é um caminho solitário, uma meta que pertence a você. Acho que ninguém poderá ajudá-lo. Vim até você para promover esse encontro entre você e sua alma. Despertá-la, cabe a você. Como disse anteriormente, você sabe como fazer, pois essa é a sua meta, a sua missão de vida. Você saberá quando ela tiver desperta, sentirá a presença dela e nunca mais irá questionar sobre a sua existência. -Dito isso, a réplica de Yogod desapareceu.
Yogod se sentiu só, desamparado, esquecido e abandonado, como jamais se sentira, ali diante da escultura de cal, que supostamente era a sua alma adormecida.
-E agora? -perguntava-se Yogod, sem respostas.
Yogod saiu da caverna e viu a linda paisagem em volta, que nem percebera quando andou em direção à caverna. O despertador de Yogod toca.
Ele se sentiu diferente, com o peso de uma terrível pendência, que era despertar a sua alma. Lembrou do que a réplica lhe dissera no seu sonho sobre karma e entendeu ali que essa pendência iria trazê-lo de volta à vida, tantas vezes fosse necessário, até que a sua alma despertasse.
Yogod tenta recitar poemas e mantras espirituais…(3a. noite)
Yogod repetiu todo o ritual antes de dormir, para voltar à caverna onde se encontrava a sua alma coberta de cal. Viu-se numa praia paradisíaca e deserta, caminhou tranquilo na certeza de que encontraria o que estava buscando. Não demorou muito e Yogod avistou a caverna, entrou, e lá estava a sua alma, coberta de cal. Yogod olhou fixamente para a sua alma inerte, lembrou dos seus pais e das ”esquisitices”, tipo, cantar o Gayatri mantra até a exaustão…Será que isso despertaria a sua alma? Orar, recitar o poema do mestre dos seus pais, Sri Chinmoy, “O absoluto”, praticar pranayamas, a arte da respiração, meditar, correr…era isso que os pais de Yogod faziam e pareciam tão conectados…Vamos lá, acho que ainda me lembro do Absoluto.
O Absoluto
Nem mente, nem forma, apenas existo;
Agora cessaram todas as vontades e pensamentos;
O final da dança da Natureza;
Eu sou aquele por quem busquei…
Nesse ponto, Yogod percebeu que uma parte do pó escorregava da estátua para o chão. Só que ele se depara com um problema, não se lembra do restante do poema…
-Espere, se está funcionando, vou tentar o Gayatri mantra, desse acho que me lembro…
Aum bhur bhuvah svah
Tat sa vitur varenyam
Bhargo…deva…beva…leva..hummmm…
Yogod esqueceu a segunda parte do mantra, porém ele percebe que a sua alma apreciou, já que escorreu mais cal do corpo da estátua para o chão da caverna…Yogod respira lento e profundo, tentando acalmar a sua euforia, que era grande. Teria ele encontrado o caminho do despertar da sua alma? Concentrou-se um pouco, tentou uma meditação ainda que incipiente, e quando abriu os olhos, viu que sua alma estava mais limpa. Viu que por baixo do cal havia alguns pontos de luz dourada que emanavam do corpo da estátua. Yogod sorri, e diz para si mesmo: -É, acho que estou no caminho certo… -o despertador toca e Yogod acorda.
-Hoje tenho que me preparar para logo mais à noite… -Propõe-se Yogod e vai atrás do poema O Absoluto, do gayatri mantra, dá uma lida no livro 222 técnicas de meditaçâo, de Sri Chinmoy, recita o poema, entoa o mantra, lê o livro, vai para as obrigações do seu dia, e, ao cair a noite, Yogod vai dormir cedo e bem mais preparado para despertar a sua alma do que na noite anterior…
O despertar da alma (4a. noite)
Yogod, sonha que está numa linda gruta, com os respectivos cristais incrustados, um regato cristalino, e sua alma, meio luminosa e meio encoberta por um cal remanescente. Yogod tenta lavar a estátua e nada acontece. A água não molha a camada de cal que resta na estátua. Yogod, repentinamente, se lembra da noite anterior, do poema O Absoluto, do Gayatri mantra e da meditação (práticas da noite anterior que deram algum resultado). Senta-se diante da estátua, recita o poema O Absoluto por 21 vezes, entoa o Gayatri mantra completo por 108 vezes, respira lento e profundo por algum tempo e mergulha na meditação, sem medo de ser feliz…Quando Yogod volta a si, está num estado de consciência completamente alterado. Olha em volta e tudo parece tão perfeito… As cores estão mais nítidas, tudo tão harmônico, tão pacífico, tão perfeito…
– E a estátua, lembra-se Yogod, cadê ela? Levanta-se procurando, e nada. Alô! Onde está você? Sai da caverna procurando manter o controle, pois afinal ele não poderia perder novamente sua alma, logo agora que a encontrara, ainda que coberta de cal. Ele a queria muito de volta.
-Ei!!! Você está procurando por mim no lugar errado… -ouviu Yogod, a voz que lhe era familiar…
-Hein? Estou procurando no lugar errado? Pois então me mostre o lugar certo para procurá-la… -Yogod entendeu que aquilo era um jogo de esconde-esconde…
-Volte para a caverna! -Propõe a voz que vinha do seu interior….
Yogod volta para a caverna e a voz interior pede para que ele se sente, acalme a respiração, feche os olhos e se interiorize…Yogod fica completamente maravilhado com o que vê! Sua alma está completamente limpa, toda dourada, um dourado mais intenso que o do ouro! Yogod quer que tudo pare naquele momento em que ele vê a sua alma desperta. O melhor de tudo é que a sua alma ali presente, é a sua réplica, numa versão mais pura, luminosa, bela e perfeita.
– Agora já não precisamos de intermediários… Sou a sua alma desperta, e quando desperto entramos em unicidade perene, sem chave para ligar e desligar a conexão. Estamos conectados para sempre! Agora nós somos um… -diz sua alma sorrindo, e recita o poema ‘O Absoluto’, de autoria de Sri Chinmoy, mestre dos pais de Yogod.
O ABSOLUTO
Nem mente, nem forma, Eu apenas existo;
Cessaram agora toda vontade e pensamento.
O último fim da dança da natureza;
Eu sou Aquele por quem busquei.
Um reino de deleite descoberto, definitivo,
Além de ambos, conhecedor e conhecido.
De um descanso imenso desfruto enfim;
Apenas o uno encaro.
Cruzei os secretos caminhos da vida;
Tornei-me a Meta.
A verdade imutável está revelada;
Sou o caminho, a Alma-Deus.
Meu espirito sabedor de todas as alturas,
Estou em silêncio no âmago do sol.
Nada barganho com o tempo ou com as ações;
Meu jogo cósmico está concluído.
-Sri Chinmoy
-Bravo! -grita Yogod e aplaude a sua alma que se curva, para que os aplausos passem por ela… O despertador humano desperta Yogod do seu último sonho, antes do seu despertar definitivo. A partir desse dia Yogod se tornou uma pessoa iluminada, que levava a sua luz onde ia e no que quer que fizesse.
O poder dos pensamentos e qualidades espirituais rompem as barreiras daquilo que chamamos de realidade. Todo ser humano tem algo em comum, e a isso que chamo de algo, é o Criador. Todo ser humano está ligado de uma maneira inseparável com toda a criação. O que nos une é esse núcleo central que aqui denominamos de criador (Inteligência, Fonte, Presença, Deus, Espírito, Alma, Brahma, Vishnu, Shiva, Alá, Tupã, Inominável…) e outros tantos nomes que damos a esse criador, ao longo desses aproximadamente 50 mil anos da nossa existência. Acredito que somos peças do quebra-cabeças a ser montado, de um jogo, ou da sopa cósmica a que chamamos de universo. Portanto, cada ação que acreditamos ser individual, não o é, porque vai afetar o todo, já que somos um manancial de energias vibracionais numa rede de conexões, que criam conjuntamente tudo o que há e até mesmo o que não há, o que ainda está no campo dos sonhos e da imaginação. Assim sendo, tudo o que pensamos causa uma alteração vibracional nesse todo que nos interliga.
Tendemos a crer que somos uma imensa lista de atributos e assim definimos os seres humanos. Somos fascinados por listas, desde os dez mandamentos, até a lista dos supermercados. Devo dizer que não importa muito o tamanho da lista, nem os atributos nela contidos, para definir o ser humano. Não define. A pergunta que não cala permanece: Quem sou Eu? O que significa a minha presença aqui, agora? O que eu quero? O que eu posso? O que eu devo? Quantas interrogações sem respostas. Se conseguíssemos responder a auto indagação “Quem sou eu?” o ponto de interrogação perderia muito da sua importância. Ah se pudéssemos nos permitir mergulhar no nosso centro… entrar em contato com a fonte do amor, da luz, da benevolência, da compaixão que jorram ininterruptamente da nossa fonte criativa… Somos eternos buscadores e construtores de lares fora de nós. Casas grandes, médias, pequenas, simples, sofisticadas, nas cidades para aqueles mais cosmopolitas, no campo, na praia e algumas vezes até nos realocamos em países distantes em busca de nossos lares. Nos juntamos em pequenos núcleos de amigos e familiares, vivemos nossos romances, comédias e dramas, como nos filmes. Criamos nossas estórias. Infelizmente nada disso nos satisfaz, pelo simples fato de que o nosso lar, o nosso verdadeiro lar está dentro de nós. Não há nada nesse mundo que não faça parte da nossa grande família. Não há ninguém que não mereça o nosso amor, já que o nosso Eu verdadeiro ama a tudo e a todos igualmente, quem merece e quem precisa do nosso amor. A reciprocidade é verdadeira, a fonte interior precisa do amor de todos igualmente, o amor, é o combustível que mantém a criação em movimento.
As demandas do mundo são os nossos serviços. No núcleo, no centro, está o nosso verdadeiro lar e é lá, o único onde podemos verdadeiramente descansar. Um Deus verdadeiro não é um elaborador de listas de tarefas muitas vezes tão pesadas que não conseguimos suportá-las. Ele não separa as boas e as más qualidades. Não escreve livros que dão conselhos, que imponham regras, que manipulem, que julguem, absolvam ou punam. Tudo isso somos nós, os humanos, que fazemos. Deus é benevolente podemos decidir se queremos ouvi-lo, procurá-lo, necessitá-lo, implorar por ele, ajoelhar, meditar, orar, pedir, suplicar, se sentir próximo ou distante, nada disso muda o endereço de Deus.
“O reino dos céus está dentro de vós”, “Eu e meu pai somos um”, disse Jesus. A moradia de Deus está dentro de nós, para ouvi-lo basta fazer silêncio… e tudo o que ele tem para nos dizer é: Seja!
Onde tu és, Eu sou e Onde Eu Sou, tu és. Estamos aqui para bem servir, e ao fazê-lo, somos bem servidos também. Estamos aqui para sermos um mundo de amor, luz, paz, compaixão e benevolência, então sejamos, sejamos a tocha olímpica com essas labaredas de “atributos” espirituais, onde quer que seja, no que quer que façamos.
“Seja quem tu és”, Seja!
Vamos abrir as portas e janelas dos nossos corações, vamos compor os nossos próprios mantras. Quando você diz: “Eu farei tal coisa”, a permissão será dada e a tal coisa será colocada em ação, para ser realizada sem a necessidade de puxar ou empurrar. As coisas naturalmente acontecem. Intencione, coloque em ação e realize. Portanto, fazer um ABC de mantras positivos colocando-os em ação tem um grande poder. Abaixo darei mais uma “lista”, já que gostamos tanto delas, com algumas sugestões, como exemplo de um abecedário de adjetivos positivos. Colha no jardim interior do seu coração a ou as qualidades de que você mais necessita, entoe o seu mantra, coloque-o em ação quando despertar e quando for dormir. Depois de alguns dias de prática, talvez você possa ter uma grata surpresa.
ABC da positividade:
A= Eu sou o amor, alegria, ascendência em ação;
B= Eu sou a benevolência, beleza, bondade em ação;
C= Eu sou a compaixão, coragem, confiança em ação;
D= Eu sou a determinação, divindade, desapego em ação;
E= Eu sou o equilíbrio, entusiasmo, entrega em ação;
F= Eu sou a felicidade, fonte, franquesa em ação;
G= Eu sou a gratidão, generosidade, gentileza em ação;
H= Eu sou a humildade, harmonia, honestidade em ação;
I= Eu sou a iluminação, inteligência, instrumento em ação;
J= Eu sou a Juventude, juventude, justiça em ação;
K= Eu sou o Krishna, em ação
L= Eu sou a luz, leveza, liberdade em ação;
M= Eu sou a meditação, maestria, manifestação em ação;
N= Eu sou a novidade, néctar, nobreza em ação;
O= Eu sou a oportunidade, opulência, organização, em ação;
P= Eu sou a paz, prosperidade, pureza em ação;
Q= Eu sou a quietude, qualidade, querer em ação;
R= Eu sou a realização, respeito, relaxamento em ação;
S= Eu sou a sabedoria, simplicidade, sinceridade em ação;
T= Eu sou o talento, transcendência, tolerância em ação;
U= Eu sou a unicidade, universo, em ação;
V= Eu sou a vitória, verdade, virtude em ação;
Z= Eu sou o zelo, zen em ação;
Quando entoamos de forma continuada, por exemplo: “Eu sou o amor em ação”, entramos numa espécie de concentração, que pode nos levar a um estado de meditação. A nossa mente se ocupa com as qualidades positivas que estamos entoando, já que está focada apenas na nossa entoação. O poder da meditação é o silêncio que ela produz, permitindo uma abertura para o mundo interior, para a música divina que toca dentro de nós, para a voz do Supremo em nós. Nesse estado, Deus dirá a você o que quer que você precise saber. Por outro lado essa prática, não deixa de ser uma oração O poder da oração permite-nos acessar o ouvido de Deus. Maravilhoso seria se pudéssemos pedir ao nosso Eu interior, para que nos dissesse o que precisamos saber e nos desse a capacidade para realizar apenas o que temos que fazer. Se pudéssemos rasgar e jogar fora as nossas listas de crenças, do que achamos que precisamos e devemos fazer. Se pudéssemos ignorar as velhas tradições, que insistem em nos dizer que a menos que façamos isso ou aquilo, não iremos agradar a Deus.
Esse breve instante ou sopro de vida, que comparado com a eternidade fica mais e mais curto e mais breve, quanto desse instante desperdiçamos, tentando seguir por caminhos que não são nossos. O nosso caminho é singular, só nós podemos trilhar. O nosso caminho é o caminho de Deus. O caminho de Deus é o nosso caminho. Fazemos parte dele e ele faz parte de nós. Portanto: Seja!
Eu e Deus estamos interligados em unicidade perene. Nada, nem ninguém pode nos desligar ou separar. Segundo a Gênesis, tradição mitológica ou espiritual, da tribo de um Xaman que eu aprecio muito. Nós somos as almas sementes da árvore Divina. Deus se sentia só, e precisava de outros deuses, para interagir com Ele. Ele se fez semente, foi a primeira semente a ser semeada no solo da mãe terra. A mãe gaia engravidou de Deus, que na sua generosidade produziu e disponibilizou seus nutrientes, para que a semente primeira brotasse. Fez-se a chuva, fornecendo água para aplacar a sede daquela que germinava. Nasceu o sol e forneceu sua luz para iluminar a semente e ela brotou. Fez-se o vento sacudindo o frágil broto que germinara para fortalecê-lo. A árvore cresceu, se tornou forte e robusta, com dezenas de galhos, milhares de folhas, centenas de flores que deram origem às abelhas, insetos e borboletas. Nasceram os frutos que deram origem aos pássaros, animais e a novas sementes que se multiplicaram no solo fértil da terra. Estas sementes somos nós, nossas almas, com todos os poderes e atributos da primeira semente, Deus. Não estamos sós. A própria semente divina contou com a ajuda da terra, da chuva, do vento, dos pássaros, das borboletas, das abelhas e outros insetos para se tornar madeira, galhos, folhas, flores, frutos e retornar à semente.
Nós somos do mesmo núcleo familiar daquela primeira semente divina. Todos percorremos nossas trajetórias em relação estreita com o mineral da terra, com o vegetal, com os animais, com o humano, com a criação e com o Criador. Nossa viagem não é linear, é circular, numa espécie de anel multidimensional. Vivemos experiências da semente ao fruto que alimenta. Depois, nos tornamos mais e mais vezes sementes, fecundando o solo terreno. Não há diferença entre o criador e a criatura. São semelhantes, dotados do mesmo poder. Basta acreditar.