textos de Sri Chinmoy, em particular do livro Meditação, da editora Pensamento
Sua mente é
A flecha de concentração
Seu coração é
O arco de meditação.
Sua alma é
O alvo de contemplação.
– Sri Chinmoy, Ten Thousand Flower-Flames, Part 63, Agni Press, 1983, tradução
O arco e a flecha
A concentração é a flecha. A meditação é o arco.
Ao nos concentrarmos, focalizamos todas as nossas energias em algum assunto ou objeto com a intenção de desvendar os seus mistérios. Quando meditamos, nos erguemos de nossa consciência limitada para uma consciência mais elevada, em que a vastidão do silêncio reina suprema.
A concentração quer dominar o conhecimento que ela busca. A meditação quer se identificar com o conhecimento que ela procura.
A concentração não deixa que a perturbação – o gatuno – entre no seu arsenal. A meditação deixa que ela entre. Para quê? Apenas para pegar o ladrão em flagrante.
A concentração é a comandante que ordena que a consciência dispersa fique atenta.
A concentração e a total persistência não só são guerreiras divinas inseparáveis, mas também interdependentes.
A concentração desafia o inimigo para um duelo e luta contra ele. A meditação, com seu sorriso silencioso, abranda o desafio do inimigo.
A concentração diz para Deus: “Pai, estou indo a ti”. A meditação diz para Deus: “Pai, venha até mim”.
Um aspirante tem duas mestras legítimas: a concentração e a meditação. A concentração é rígida com o aluno. A meditação é rígida às vezes. Mas ambas são enfaticamente interessadas no progresso do estudante.
O poder da concentração
Concentração significa vigilância e atenção interior. Há ladrões à nossa volta e dentro de nós. Medo, dúvida, preocupação e ansiedade são ladrões interiores que estão tentando roubar o nosso equilíbrio interior e a nossa paz de espírito. Quando aprendemos a nos concentrar, é muito difícil para essas forças entrarem em nós. Se a dúvida entrar na nossa mente, o poder da concentração vai dilacerá-la. Se o medo entrar na nossa mente, o poder da concentração vai expulsá-lo. Hoje, somos vítimas de pensamentos sombrios, obscuros, destrutivos. Todavia, chegará um dia em que, com a força de nossa concentração, os pensamentos perturbadores terão medo de nós.
A concentração é a vontade dinâmica da mente que opera na nossa existência para que aceitemos a luz e rejeitemos a escuridão. É como se fosse uma guerreira divina dentro de nós. O que a concentração pode fazer na nossa vida de aspiração é inimaginável. Ela pode facilmente separar o inferno do Paraíso, para que possamos viver no constante deleite do céu, e não nas preocupações, ansiedades e torturas perpétuas do inferno, enquanto estamos aqui na Terra.
A concentração é a maneira mais segura de alcançar o nosso objetivo, seja ele a compreensão de Deus ou a mera satisfação de nossos desejos mundanos. Um aspirante verdadeiro, mais cedo ou mais tarde, vai obter o poder da concentração, seja pela graça de Deus, pela prática constante ou pela própria aspiração.
A vontade indomável da alma
Ao nos concentrarmos, somos como um projétil entrando em algo, ou como um ímã atraindo o objeto de concentração para a nossa direção. Nessa hora, não deixamos que nenhum pensamento entre na nossa mente, seja ele divino ou não-divino, mundano ou celestial, bom ou ruim. Na concentração, a mente inteira precisa estar focalizada num objeto ou assunto específico. Se estivermos nos concentrando na pétala de uma flor, devemos tentar sentir que nada mais existe no mundo, mas apenas a pétala. Não olhamos nem para frente nem para baixo, para cima ou para dentro. Procuramos apenas assimilar o objeto com a nossa concentração unidirecionada. Essa não é uma maneira agressiva de entrar em alguma coisa. Essa concentração vem diretamente da vontade indomável da alma, ou da força de vontade.
Quando quiser praticar a concentração em algum objeto, você deve escolher algo que transmita alegria imediatamente. Se você tiver um Mestre, o retrato dele dará alegria imediata. Se não tem um Mestre, escolha algo que seja muito belo, divino e puro, como uma flor, por exemplo.
Nós nos concentramos com o unidirecionamento da mente iluminadora. Nós meditamos com a vastidão expansiva do coração. Nós contemplamos com a unicidade plena da alma.
Concentração a partir do coração
Muitas vezes, ouço aspirantes dizerem que não conseguem se concentrar por mais do que cinco minutos. Depois de cinco minutos, eles ficam com dor de cabeça ou sentem que a própria cabeça está pegando fogo. Por quê? Porque o poder da concentração deles está vindo da mente intelectual ou – podemos dizer – da mente disciplinada. A mente sabe que não deve vagar por aí. Ela tem esse conhecimento. No entanto, se for usada de uma maneira apropriada, iluminada, então a luz da alma terá de ir até ela. Quando a luz da alma entra na mente, é muito fácil se concentrar em alguma coisa por horas. Durante esse período, não haverá pensamentos, dúvidas nem medos. Nenhuma força negativa poderá entrar na mente se ela estiver inundada com a luz da alma.
Ao nos concentrarmos, precisaremos sentir que o nosso poder de concentração está vindo do centro do coração e então subindo até o terceiro olho. O centro do coração está localizado no mesmo lugar em que a alma está. Quando pensarmos na alma nesse momento, é melhor não formar nenhuma idéia específica sobre ela e nem tentar imaginar a forma que ela tem. Apenas pensaremos que ela é uma representante de Deus ou luz e deleite ilimitados. Ao nos concentrarmos, tentaremos sentir que a luz da alma está vindo do coração e passando pelo terceiro olho. Com essa luz, entraremos no objeto da concentração e nos identificaremos com ele. O estágio final da concentração é descobrir a Verdade escondida, última, no objeto que está sendo focalizado.
Vislumbrando o infinito: meditação
Quando nos concentramos, focalizamos a nossa atenção em algo especial. Entretanto, ao meditarmos, sentimos que temos uma profunda capacidade de ver, lidar e saudar diversas coisas ao mesmo tempo. Quando meditamos, tentamos nos expandir, como um pássaro que abre as asas. Procuramos expandir a nossa consciência finita e entrar na Consciência Universal, em que não há medo, inveja ou dúvida, mas somente alegria, paz e poder divino.
Meditação significa o nosso crescimento consciente no Infinito. Ao meditarmos, o que fazemos, na verdade, é entrar numa mente vazia, calma, silenciosa e permitir que sejamos alimentados e sustentados pela própria Infinidade. Ao meditarmos, queremos comungar apenas com Deus. Agora estou falando em português e você consegue me entender porque sabe bem português. De modo semelhante, quando sabemos como meditar bem, somos capazes de conversar com Deus, porque a meditação é a linguagem que usamos para falar com ele.
Um mar de tranqüilidade
Meditar é como ir ao fundo do oceano, onde tudo é calmo e tranqüilo. Na superfície, pode haver muitas ondas. No entanto, mais abaixo, o mar não é afetado por elas. Em suas profundezas mais profundas, o mar é totalmente silencioso. Quando começamos a meditar, tentamos atingir a nossa própria existência interior, a nossa verdadeira existência – ou seja, o fundo do mar. Então, quando vêm as ondas do mundo exterior, não somos afetados. Medo, dúvida, preocupação e toda a agitação mundana simplesmente irão embora, porque dentro de nós existe uma paz sólida. Os pensamentos não podem nos atormentar, porque a nossa mente é toda paz, toda silêncio, toda unicidade. Assim como peixes no oceano, eles pulam e nadam, mas não deixam marcas. Portanto, ao estarmos no nosso estado meditativo mais elevado, sentimos que estamos no mar, e que os animais marítimos não podem nos afetar. Sentimos que somos o céu, e que os pássaros não podem nos afetar. Nossa mente é o céu e nosso coração é o mar infinito. Isso é meditação.
Transformando-se na verdade: contemplação
Por meio da concentração, nos tornamos unidirecionados. Por meio da meditação, expandimos a nossa consciência na Vastidão e entramos na consciência dela. Porém, na contemplação, nós nos transformamos na própria Vastidão, e a consciência dela passa a ser nossa. Na contemplação, estamos ao mesmo tempo na nossa mais profunda concentração e na nossa meditação mais elevada. Nós nos transformamos e nos tornamos totalmente unos com a verdade que vimos e sentimos na meditação. Quando estamos nos concentrando em Deus, talvez o sintamos bem diante de nós ou ao nosso lado. Ao meditarmos, é certo que sentiremos a Infinidade, a Eternidade e a Imortalidade dentro de nós. Entretanto, quando estamos contemplando, vemos a nós mesmos como Deus, que nós mesmos somos a Infinidade, a Eternidade e a Imortalidade.
Contemplação significa a nossa unicidade consciente com o Absoluto infinito, eterno. Na contemplação, o Criador e a criação, o amante e o Amado, o conhecedor e o conhecido tornam-se um. Num certo momento, somos o amante divino e Deus é o Amado Supremo. No instante seguinte, trocamos de papéis. Na contemplação, nós nos tornamos unos com o Criador e vemos o universo inteiro dentro de nós. Nesse momento, ao olharmos para a nossa própria existência, não vemos um ser humano. Vemos algo como um dínamo de luz, paz e felicidade.
A concentração entrega a mensagem da vigilância. A meditação entrega a mensagem da vastidão. A contemplação entrega a mensagem da inseparável unicidade.
Meditação versus Contemplação
Se meditarmos numa qualidade divina em especial, como a luz, a paz ou a bem-aventurança, ou se meditarmos de maneira abstrata na Infinidade, na Eternidade ou na Imortalidade, durante todo o tempo sentiremos, dentro de nós, um trem expresso indo para frente. Estamos meditando sobre a paz, a luz ou a felicidade, enquanto o trem expresso está em constante movimento. A nossa mente está calma e tranqüila na vastidão da Infinidade, mas existe um movimento. O trem está indo incessantemente em direção à meta. Estamos tendo a visão de uma meta, e a meditação está nos levando até lá.
Na contemplação não é assim. Nela, sentimos o universo inteiro e a Meta mais distante profundamente dentro de nós mesmos. Ao contemplarmos, sentimos que estamos contendo dentro de nós o universo inteiro, com toda a sua luz, paz, felicidade e verdade infinitas. Não há pensamento, nem forma, nem idéia.
Na contemplação, tudo está imerso no rio da consciência. Na nossa contemplação mais elevada, sentimos que não somos nada, mas apenas a própria consciência; formamos uma unidade com o Absoluto. Todavia, quando estamos no nosso estado meditativo mais elevado, existe um movimento dinâmico acontecendo na nossa consciência. Percebemos totalmente o que está ocorrendo tanto no mundo interior como no exterior, mas não somos afetados. Na contemplação também não somos afetados pelo que acontece no mundo interior e no exterior, mas toda a nossa existência transforma-se em parte do universo, que estamos mantendo profundamente em nós mesmos.
Eu estava lendo um livro sobre o Dalai Lama e fiquei pensando se eu tinha alguma conexão com o Tibete.
Sri Chinmoy: Por que você quer conhecer o passado? O passado já foi. Você realizou Deus nas suas encarnações interiores? A sua meta é a realização-Deus! Se o passado não lhe permitiu realizar Deus, então para que serve? A curiosidade tola é inútil. Por vezes começamos com curiosidade, e então entramos para a verdadeira espiritualidade. Então aparece uma das duas coisas: frustração, que é destruição; ou flores-esperança, que se tornam belas, mais belas, belíssimas. Por fim enxergamos a realidade, e então temos verdadeira satisfação.
(…) Eu sou um daqueles que não valoriza os milagres, pois muitas vezes eles simplesmente alimentam a curiosidade, e há um abismo enorme entre a curiosidade e a aspiração. Mas, ainda assim, alguns Mestres pensam que é recomendável que um indivíduo comece sua jornada espiritual, mesmo se tiver de começar com curiosidade. Por fim, a mesma pessoa adentrará o mundo de verdadeira aspiração. (…)
Eu posso fazer alguma coisa sem o homem? Sim, eu posso. Sem o homem eu posso fazer muitas, muitas coisas, se não cada e todas as coisas. Se eu orar a Deus para me dar a capacidade de fazer tudo sem a ajuda da humanidade, estou certo que Ele me dará essa dádiva.
Sem o homem eu faço tantas coisas, precisamente porque o meu Pai Todo-poderoso, o meu Amado Supremo, me deu a capacidade. Eu olho para o meu irmão magnífico, o sol, sem o homem. Eu olho para a minha linda irmã, a lua, sem o homem. Eu olho para as minhas doces crianças, as estrelas, sem o homem. Eu olho para o meu Pai, Deus, e minha Mãe, Deus, sem o homem.
Mas eu posso fazer alguma coisa sem Deus? Não, impossível! Por quê? Eu não posso fazer nada sem Deus porque eu não posso viver sem Ele. Como é isso de eu não poder viver sem Deus? É porque Ele é todo Amabilidade, todo Amor? Não, não! É porque Ele é todo Cuidado, todo Compaixão? Não, não! É porque Ele está em todo lugar? Não, não! É porque Ele é a minha essência e substância? Não, não!
Então, por que isso, de eu não poder viver sem Deus? Eu não posso viver sem Deus precisamente porque eu não posso viver sem aquilo que eu sou. Você pode viver sem o que você é? Impossível! Se você é um com Deus, então você O tem dentro de si, como um cervo tem o almíscar. O cervo e o almíscar são inseparáveis. Quando a flor tem perfume, a flor e a fragrância são inseparáveis. Similarmente, Deus, a Beleza, que está dentro de mim e Deus, o Possuidor da Beleza, são inseparáveis. Portanto, eu não posso viver sem Deus, pois Ele é o que eu sou e o que eu tenho. Você também não pode viver sem o que você tem e o que você é. O que você tem e o que você é irão ser sempre a mesma Existência-Realidade: Deus. Logo, você e eu não podemos viver sem Deus, muito menos fazer qualquer coisa sem Ele.
Somos todos adultos, não é mesmo? Sendo assim, quando se fala em Pureza, pensamos nisso como um sonho distante, como se fosse algo apenas do mundo infantil…
Mas de fato, a Pureza é uma grande qualidade espiritual que devemos desenvolver se estivermos insatisfeitos com nosso atual estilo de vida.
A Pureza pode estar presente em nossos atos, na nossa postura corporal, nas nossas palavras (na verdade, no que falamos E naquilo que escolhemos ouvir), no que lemos e vemos. Pureza não é um conceito distante. Talvez uma de nossas metas de vida seja justamente a busca por torná-la presente, palpável.
A Pureza na mente, talvez seja uma das mais importantes buscas. Cuidarmos do que pensamos…Sim, já notaram como pensamos coisas inúteis? E pior, como pensamos e falamos coisas ruins? Não só uns dos outros (a famosa ‘fofoca’), mas também de nós mesmos. Quando duvidamos de nós, de nossas capacidades e potencialidades, trazemos à tona talvez a pior das impurezas, a insegurança.
Por que perdemos a Pureza?
Pense no olhar brilhante e sorridente de uma criancinha…Pode haver algo mais puro? E por acaso já não fomos, nós mesmos, uma criancinha com esse mesmo olhar?
Todos terão que responder que sim!
Pois, se fomos, ainda a temos dentro de nós. E podemos buscá-la dentro de nosso coração espiritual. Lá, que é a morada de nossa alma, reside toda a nossa perfeição perdida.
Como buscá-la? Através da Meditação. Sim, feche os olhos e medite em seu coração espiritual, no centro de seu peito. Encontre a sua criança interior. Reveja os olhinhos brilhantes, que você já conhece…eles são seus! Você pode trazê-los de volta à tona, pois nossa criança nunca morreu. Apenas ficou esquecida…
Por que perdemos a Pureza? Porque talvez tenhamos nos deixado levar por falsas propagandas. Talvez o que dizem ser muito importante para a vida, não seja de verdade. Talvez estejamos perdendo nossa Pureza, buscando coisas que nunca nos trazem Paz, Alegria e Felicidades reais.
Busque, busque dentro de você! A jóia da Pureza está mais perto do que pensa…
Muitos hoje em dia procuram a meditação. A mídia tem propagandeado consideravelmente o tema, como algo que traz equilíbrio, bem estar, saúde física, mental e emocional, tudo isso tão almejado por todos, não é mesmo?
Mas acreditem! Isso é apenas a ponta do iceberg que a meditação pode nos trazer. Para conseguir isso, basta comprar um bom livro sobre o assunto e praticar os exercícios propostos.
O que a mídia ainda não fala, é que a meditação, quando praticada dentro de um estilo de vida, pode levar você ao mais profundo e vasto conhecimento de si, ao verdadeiro Yoga (que significa “união com Deus”), e para isso, um Mestre Espiritual toma um papel fundamental, uma vez que já viveu plenamente tal experiência.
A vida com um Mestre (que a propósito, não precisa estar aqui no corpo físico) é ativa, plena de ensinamentos e tarefas, que por mais simples que sejam, se tornam espirituais. A meditação é um aspecto de seus ensinamentos. O resto da vida é composto por interesses internos e externos, que dão muito mais sentido à vida. Até porque aprendemos que nossa grande riqueza aqui consiste na busca diária desse Yoga (união com Deus, lembra?). Todas as experiências se tornam úteis, nada é desperdiçado. Tudo é uma grande oportunidade para avançarmos na nossa busca. E os métodos e disciplinas para nos mantermos conectados com ela, só um Mestre Espiritual pode dar.
Portanto, busque o grande iceberg da meditação! Não se contente com pouco…
(Sri Chinmoy fez os seguintes comentários em Sacramento, Califórnia, no dia 1º de Junho de 1996, após competir no California State Senior Games)
Quanto mais jovem você puder se tornar, mais rápido será o seu progresso. Isso absolutamente não é piada! Eu estou me aproximando rápido dos 65 anos de idade. Eu farei algumas coisas mais nesta vida que eu não poderia fazer nos meus anos de adolescente. Eu já equilibrei peso com a cabeça, o qual eu não conseguia nunca fazer, mesmo quando era um atleta campeão. E há cinco ou seis coisas a mais que eu devo fazer nesta encarnação, as quais, nos tempos da minha carreira atlética, eu não poderia fazer. Se você sinceramente quer fazer um progresso mais rápido, tem que ter um coração de criança. É a mente que nos faz sentir que estamos muito velhos, que somos inúteis. Essa mente tem que ser silenciada pela vontade do coração, pela vontade da alma.
É a luz da alma que pode iluminar a mente. É verdade, isso é um processo muito, muito longo, mas por fim, a mente pode ser iluminada. Se você silenciar a mente, ela se torna como um cão domesticado e obediente.
A idade está na mente; a idade não está no corpo. Quando pensamos que estamos velhos, isso é o fim, o fim da nossa jornada. Todo dia, a todo momento, apenas pense que você tem sete ou nove ou dez anos de idade. Não pense que você tem mais do que trinta. Não pense que tem trinta e um e, absolutamente jamais, quarenta e um! Se você não puder fazer de si mesmo uma criança de sete anos, então no máximo, pense em treze anos. Apenas imagine! A imaginação é uma realidade própria. A imaginação é um mundo próprio, mas você tem que trazer esse mundo para si todos os dias ou entrar nele.
Mesmo se não quiser fazer exercícios cedo pela manhã, tente fazer você sentir que é jovem. Apenas saia e veja o que acontece. Então, enquanto estiver andando, tente andar um pouco mais rápido. Enquanto estiver fazendo qualquer coisa, faça o movimento mais rápido. Traga de volta os seus dias de criança quando você costumava correr e brincar com a maior alegria. Com a idade de treze ou quatorze, eu corria. É totalmente natural para um adolescente correr. Mas, com sessenta e cinco anos, se eu corro, significa que eu estou tentando manter alguma alegria e entusiasmo.
Com determinação nós podemos vencer a barreira da idade e voltar ao nosso coração de criança, onde a esperança está brotando a todo momento. Se pudermos permanecer no coração, poderemos agir como uma criança e não haverá fim para o nosso progresso. Nossas limitações-grilhões da idade serão transformadas mais uma vez em nossos sonhos-liberdade de criança.
pintura de Sri Chinmoy, no Ashram de Sri Aurobindo
Oh doce Amado Senhor da minha vida, Oh grande e bom Amigo do meu coração, eu sei, eu sei, amá-Lo é estar fazendo algo por Você. Uma vez que eu não estou fazendo algo por Você, isso significa que eu não O amo verdadeiramente.
Oh Amado Senhor Supremo, eu sei, eu sei, servi-Lo é estar fazendo alguma coisa por Você. Ora, ora, uma vez que eu não estou fazendo alguma coisa por Você, isso significa que eu não estou Lhe servindo.
Oh doce Senhor, eu sei, eu sei, pensar em Você, meditar em Você é estar Lhe fazendo algo. Ai, ai, uma vez que eu não estou fazendo algo por Você, isso significa que eu não penso e eu não medito em Você.
Oh doce Senhor, dizer ao mundo interior que eu preciso de Você incansavelmente, é estar fazendo algo por Você; dizer ao mundo exterior que ele necessita de Você desesperadamente, como eu preciso, é estar fazendo algo por Você. Mas ora, uma vez que eu não estou, nem no mundo interior nem no mundo exterior, fazendo alguma coisa por Você, isso significa que eu não preciso de Você; eu sou capaz apenas de agradar a mim mesmo do meu próprio modo.
Mas a promessa solene de minha alma foi agradá-Lo e satisfazê-Lo à Sua própria Maneira. Agradá-Lo e satisfazê-Lo à Sua própria Maneira não é permanecer sempre no mundo da teoria, mas se tornar a própria “praticalidade” da realidade, a qual Você quer e precisa. Ser prático significa estar fazendo algo por Você, meu Senhor. É na minha “praticalidade” que Você pode manifestar o que tem por mim, por toda a humanidade e, o que Você é para mim e para a humanidade. O que Você tem é a sua Luz-Criação interior para mim e para a humanidade inteira. O que Você é é um Clamor-Unicidade consciente, constante e inseparável no mundo interior e um Sorriso-Unicidade no mundo exterior, para mim e para a humanidade. Um dia, em breve, Oh Amado Senhor Supremo, eu definitivamente serei encontrado fazendo algo por Você com toda a alma, devotadamente e incondicionalmente, em todo momento de minha vida.
Entre 21 de maio e 01 de junho de 1981, Sri Chinmoy esteve no Brasil, passando a maior parte do tempo no Rio de Janeiro. Sua estadia aqui rendeu um pequeno diário com as memórias da viagem, chamado “Salutations to Brazil”. Nesse livrinho iremos encontrar algumas histórias deliciosas e outras que expressam um pouco a consciência “malandra” de nossa terra perante um Mestre Espiritual, tal como neste trecho:
“No Rio, fomos a uma loja que anunciava um copo de café por quinze cruzeiros. Demos vinte ao homem. Porém, ao invés de dar o troco, ele nos pediu mais vinte cruzeiros. Alo (sua colega de viagem) ficou furiosa com ele. Quando o motorista do ônibus em que estávamos chegou, ele disse ao homem: “Como é que você pode cobrar mais do que está anunciado?” Finalmente ele deu os cinco cruzeiros de troco.”
Infelizmente essa é uma consciência que, após mais de trinta anos do ocorrido, ainda impera por aqui. Ela tem mudado, é verdade, mas muito lentamente. Seria necessário que mais buscadores espirituais estivessem meditando, com muita sinceridade interior, para que as mudanças no campo espiritual se operassem com mais rapidez.
Nos aforismos de Sri Chinmoy encontramos expressões que correspondem ao estado da nossa consciência:
Ramayana é o épico que registra a vida e atos do primeiro grande mestre espiritual, Sri Ramachandra.
O livro foi escrito por um ladrão e assassino, antes chamado Ratnakar. Diante da impermanência das coisas mundanas e seu desgosto com a vida de família, Ratnakar expiou seus pecados e teve um renascimento espiritual. A partir de então, ele passou a se chamar o sábio Valmiki. Valmiki escreveu o Ramayana antes mesmo dele acontecer, simplesmente através de seu poder de visão.
Ramachandra (ou Rama) era um príncipe virtuoso e amado, mas sua madrasta Kaikeyi descobriu uma forma de fazer o rei Dasharatha enviar Rama para a floresta e coroar seu próprio filho, Bharat.
Rama viveu anos na floresta, até que sua consorte divina, Sita, foi raptada pelo demônio Ravana. Ravana representa a vida de desejos, a vida que limita, amarra e causa sofrimento.
Por fim, para recuperar Sita, o destino trouxe Hanuman, um guerreiro e ministro dos Vanaras, em contato com Rama. Hanuman, com sua devoção inigualável, descobre a verdadeira natureza de Rama, o Senhor do Universo. Através da sua devoção, Hanuman pode realizar o que é humanamente impossível – ele passa a ser o maior guerreiro, transporta montanhas, salta por cima de oceanos e derrota inúmeros demônios invencíveis. A devoção de Hanuman transforma sua vida terra-limitada em uma vida céu-liberta.
Diante da iminência da destruição do reino de Ravana por Rama, Hanuman e seus aliados, Rama envia Angad, príncipe dos Vanaras, para dar um ultimato a Ravana: ele libertaria Sita e outros cativos e, em troca, Rama pouparia sua vida e reino.
É claro que já sabemos como a história continua. A ignorância não desiste sem uma brava luta. O resultado é que Rama e Hanuman, com seu exército Vanara, acabam com Ravana e o reino de Lanka. A única exceção é Vibhishana, irmão mais novo de Ravana, que sempre o aconselhou a fazer o que era correto e devolver Sita. Vibhishana foi expulso por Ravana e tomou abrigo com Rama, a Luz, e passou a servir a Verdade.
Perguntado, Hanuman explicou que ele poderia vencer os exércitos de Rama sozinho, mas que ele não o fez para que a glória de Rama fosse amplificada. Hanuman não tinha interesse em se provar ao mundo. O objetivo dele era apenas servir a Vontade de Deus, que era revelar a Sua Luz, em e através da encarnação que era Sri Ramachandra.
Há muitos desenhos animados, filmes, livros e resumos do épico.
textos de Sri Chinmoy traduzidos por Bhumika Barros
TRÊS COISAS IMORTAIS
No mundo humano existem três coisas que duram para sempre. Elas são: medo, ansiedade e a mente duvidosa, que suspeita. Essas três limitações humanas devem por fim ser transcendidas, se um aspirante quiser entrar no mundo divino.
No mundo divino há três coisas que irão, sem dúvida, durar para sempre. São elas: fé, coragem e amor. Se um aspirante tiver essas três coisas, então ele não precisa de nada mais.
Medo, ansiedade e dúvida: eles são imortais numa forma negativa, destrutiva, enquanto que a fé, coragem e amor, representam ou incorporam a imortalidade numa forma positiva. O humano em nós irá um dia transcender a si mesmo e aceitar o divino em nós, com toda a sua fé, coragem e amor.
-Sri Chinmoy-
NOSSO AMADO SUPREMO ESTÁ PRONTO
Nosso Amado Supremo está sempre pronto a nos guiar, mas somos nós que temos que cultivar o desejo de segui-Lo.
Nosso Amado Supremo está sempre ávido, mais do que ávido, a nos fazer sentir que Ele nos ama constantemente, mas somos nós que temos que cultivar a boa vontade de acreditar n’Ele.
Nosso Amado Supremo está sempre pronto para nos ajudar a lutar contra a noite-ignorância, mas somos nós que temos que sentir a verdadeira necessidade de viver na luz-sabedoria e não na noite-ignorância. Se nós verdadeiramente quisermos a luz-sabedoria, só assim, deveremos aceitar o Seu Serviço.
Nosso Amado Supremo está sempre pronto e mais do que ávido a clamar para que nós alcancemos a mais elevada Altura-Realidade, mas Ele espera em troca, apenas um pequeno e devotado sorriso nosso. Se não oferecermos a Ele um pequeno e devotado sorriso, Ele não será capaz de criar um vaso-receptividade dentro de nós. Se não tivermos um receptáculo dentro de nós, então quando Ele sorrir para nós, não seremos capazes de vê-Lo clamando ou sentir o Seu Clamor. Nosso vaso-receptividade irá habilitar o Seu Clamor a ecoar e re-ecoar nos mais profundos recessos de nossos corações.
Isso é o que nosso Amado Supremo espera de nós, pois assim Ele pode clamar e clamar a partir de Sua própria Elevação sempre-transcendente, apenas para a nossa salvação, liberação, realização e perfeição – para nós, somente para nós.