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A lenda de Eros e Psiquê
recontada por Akrura Bogéa
O professor Yogod foi convidado para contar e comentar uma história mitológica da Grécia, para os alunos de psicologia de uma grande universidade.
-Hoje vamos contar a história do anjo Eros e da Psiquê. Uma das mais belas histórias mitológicas na minha opinião, que se dá numa relação entre os homens e os Deuses do Olimpo. Existiam doze deusas no Olimpo, uma delas é a Deusa do amor, Afrodite, que é mãe do anjo Cupido, que sai por aí atirando setas e flechas de paixão. É o responsável pelas grandes paixões da humanidade. Ao crescer, o Cupido se torna o jovem anjo Eros, que tinha uma beleza incomparável, tanto no nível da beleza humana, quanto no que diz respeito à beleza dos Deuses do Olimpo. Ele era perfeito em tudo e era todo amor. Sua função, tal qual a função do anjo Cupido, continuava sendo a mesma: espalhar a paixão através dos corações humanos.
-Muito bem! Psiquê era uma das três filhas de um Rei de Anatólia. Era tão bonita, que os homens e pretendentes a temiam por sua beleza e se acovardavam. Nenhum deles se achava merecedor daquela jovem e começaram a admirá-la como a uma Deusa. Às vezes exageravam e ofereciam mimos e oferendas para ela. Afrodite, a Deusa do amor, a mais bela das Deusas do Olimpo, vendo tanta admiração e agrados, ficou enciumada e delegou ao seu filho Eros, o Deus da paixão, que desse uma lição, naquela que supostamente estava roubando o seu lugar.
-Desfira uma flecha contra Psiquê, depois então, desfira a mesma flecha contra o homem mais feio do mundo, para que eles se apaixonem e se casem. Orientou Afrodite, entendendo que seria uma ótima vingança, ver a mulher mais bonita da terra, matrimoniar-se com o homem mais horripilante.
Eros desce do Olimpo, vê Psiquê adormecida na beira de um regato à sombra de uma grande árvore. Eros dispara sua flecha contra Psiquê, e quando vai recolher a flecha para desferi-la contra o homem mais feio do mundo:
-Veja que ironia do destino, quando Eros está retirando sua flecha, Psiquê suspira e Eros percebe que está diante da jovem humana mais bela que ele já vira. Distraído, se fere com a seta que estava destinada ao homem mais feio do mundo e ali mesmo, Eros se vê apaixonado como nunca lhe acontecera, já que a sua paixão até então, era ver os casais apaixonados que ele mesmo flechara. O tempo passa e as duas outras irmãs de Psiquê se casaram. Para ela, nada de aparecer nenhum pretendente. A Deusa Afrodite, continuava acompanhando tudo o que acontecia com a bela jovem e não estava nada satisfeita com as tais oferendas. Continuava temendo que ela pudesse tomar o seu lugar. Onde já se viu, os homens fazerem oferendas para uma simples humana. Afrodite acreditava que quando Psiquê se deparasse com o homem mais feio do mundo, ferido por seu filho Eros, tudo estaria acabado.
O pai de Psiquê, o Rei, resolve consultar um oráculo, quando vê que suas duas outras filhas se casaram e que não apareceu nenhum pretendente para Psiquê. – O que se passa com a sua bela filha? Quer saber o velho Rei. Que fica muito triste pelo destino indicado pelo oráculo consultado. Orientou o oráculo, que o pai vestisse a filha com roupas e adornos de uma noiva e que a abandonasse no pico da mais alta montanha, para que ela fosse sacrificada a desposar um homem incomum. Cumprindo com a orientação, o rei acreditava que o seu reinado continuaria próspero e pacífico. O Rei comunicou a familia o ocorrido e todos concordaram pesarosos, entendendo que esse homem incomum seria um monstro ou algo parecido. A rainha, as duas irmãs de Psiquê e a própria se conformaram com aquela trágica situação. O castigo imposto por Afrodite, que envolveu Eros o seu filho, para dar uma lição em Psiquê, estava próximo de realizar-se. O velho Rei, prepara a sua filha para a noite de núpcias, e a leva para a montanha mais alta, onde o vento Zéfiro sopra. Psiquê adormece para fugir do medo e é levada pelos ares, colocada suavemente num vale cheio de árvores, num palácio dos sonhos, cercado por um imenso jardim, com criados para servi-la em tudo quanto fosse necessário. Psiquê acorda, já é noite, seu pretendente está presente, extremamente educado, atencioso, carinhoso e apaixonado. Ela se sentiu divinamente amada, ele coloca uma única condição, como um pacto nupcial; Ela jamais poderia vê-lo, se isso viesse a acontecer ela o perderia para sempre. Seu marido chegaria sempre à noite, com todas as luzes apagadas para que ela não visse o seu rosto. Psiquê concorda prontamente, com essa única condição feita por seu marido, já que ela estava muito, muito feliz. Eros desposou-se dela, mas sua mãe Afrodite jamais poderia desconfiar, que ele Eros, seu próprio filho não executara a sua vingança, tudo que Eros não queria era despertar ainda mais a fúria de sua mãe, contra a sua esposa. Ele a conhecia muito bem. Ela só descobriria o segredo de Eros, se a sua esposa visse o seu rosto, daí a necessidade do acordo de núpcias.
-Passado algum tempo, Eros e Psiquê, era o casal mais feliz de todos os tempos. Um belo dia, apesar das recomendações dos oráculos, de que Psiquê, deveria esquecer o passado, e viver no presente com o seu marido. Ela começa a sentir falta das suas irmãs e da sua família. Então ela pede a seu marido permissão para visitá-los. Com um certo receio, Eros concorda. O vento leva Psiquê até o Palácio de seus pais, que ficam encantados com a aparência da filha, o impossível aconteceu, a filha ficou mais bonita ainda, com a aparência de felicidade plena. Psiquê começou a falar da sua vida feliz ao lado do marido, de como ele não lhe deixava nada faltar, de como o seu palácio era maravilhoso, falou dos seus jardins, da arte e da beleza que lhe cercavam. Enquanto falava as suas duas irmãs ficam possuídas pela inveja, se até os Deuses do Olimpo sentem inveja, imagine elas que são simples humanas. Resolvem então pedir para a irmã descrever o seu marido. Psiquê desconversava, mudava de assunto, mas as irmãs insistiam em querer saber da aparência do marido de Psiquê. Depois de repetir muitas vezes de que não gostaria de falar sobre a aparência do seu marido, já que ela mesma não saberia responder. Ela Psiquê, mesmo lembrando-se do acordo com Eros, não resistiu e acabou revelando o segredo do casal. As irmãs possuídas pela inveja, a todo custo, tentam convencer Pisiquê a ver o rosto de Eros. Alegam que provavelmente ela está dormindo com um monstro. – Do contrário para que tanta proteção sobre a aparência do marido?
Psiquê volta ao palácio e fica curiosa por algum tempo, mas continua resistindo a tentação de ver o rosto de Eros. Até que chega uma noite, onde as resistências de Psiquê se esvanecem, e seu esposo Eros dormia o sono dos satisfeitos e muito tranquilo. Psiquê se levanta de madrugada, ascende uma vela e vai examinar o rosto de Eros. Ela fica paralisada com tamanha beleza. Além disso fica encantada pelos poderes da flecha de Eros, que os feriram de amor e paixão. A cera quente produzida pela chama da vela esqueceu de paralisar e caiu sobre o rosto de Eros, que dá um pulo da cama e percebe a “traição” da esposa que ele tanto ama e parte voando veloz para o Olimpos, com a firme intenção de nunca mais voltar, já que seu único pedido a esposa não fora cumprido. A Jovem Psiquê, se dá conta do que fizera, entra em pânico e desespero, chora sete dias e sete noites, achando que seu sofrimento trará Eros de volta, mas não, seu choro compulsivo de nada adiantou. Embora os Deuses e Deusas que viam tudo do Olimpo, tenham ficado extremamente penalizados.
Afrodite, soprava fogo pelas narinas de tanta raiva, imagina seu próprio filho, além de não cumprir com o previamente combinado, ainda resolveu se apaixonar por sua inimiga, ainda mais ele sendo um Anjo e ela uma simples humana… Menos mal, agora ela, a Deusa Afrodite, se sentia duplamente vingada, pela suposta ousadia de Psiquê tentar roubar o seu lugar e pela desobediência do seu próprio filho.
A tristeza de Psiquê era tão grande na terra, que começou a afetar o Olimpo. Zeus vendo e sentindo o sofrimento e o desespero de Psiquê, convoca Afrodite e intervêm a favor da sofredora, pedindo uma nova chance, para a jovem apaixonada e em desespero.
As provações de Psiquê
Afrodite em obediência a seu pai Zeus, desce à terra contrariada e propõe que Psiquê, realize algumas tarefas que ela julga impossíveis de serem cumpridas, por qualquer ser humano:
Na primeira provação, Psiquê teria que separar um galpão cheio de sementes de papoulas, misturadas a outras sementes de milho, cevada, ervilha, lentilha e feijão. Afrodite calculou que essa tarefa árdua, deveria afetar a paciência e a beleza da jovem, que acabaria desistindo pela impossibilidade da tarefa em ser cumprida. Psiquê não se intimidou. Seu amor por Eros era muito maior e lhe inundava de confiança. Começou imediatamente a tarefa, já que ela só tinha 24 horas para realizá-la. Como nada escapava aos olhos de Zeus, ele percebeu que tal tarefa era impossível para qualquer ser humano, que não fosse dotado de poderes ocultos. Zeus concluiu que Psiquê não teria a menor chance de recuperar o seu amado. As formigas, penalizadas resolveram formar uma imensa colônia para ajudar Psiquê, que dentro do prazo, entregou a tarefa realizada. Cada semente separada conforme solicitado pela Deusa Afrodite, que diante de tal fato, percebeu que a jovem não ia desistir tão fácil, do seu objetivo, que era reconquistar Eros.
Na segunda provação, Afrodite caprichou mais ainda para dificultar. Ordenou a Psiquê, que conseguisse para ela, um quilo de lã dourada, dos carneiros do sol, que eram enormes, agressivos e providos de chifres afiados e pontudos, ninguém tinha coragem de se aproximar. Eles eram de fato muito selvagens e agressivos, inclusive uns com os outros, davam-se cabeçadas o tempo todo e sem motivos. Afrodite calculou que quando Psiquê chegasse no campo dos carneiros, seria esmagada por eles. A jovem Psiquê, estava deveras em apuros, não via saída. Mas… eis que veio um caniço verde de bambu em sua ajuda e fala para ela esperar o cair da tarde, hora em que os carneiros se recolhem, saciados e cansados. Nessa altura o momento seria mais propício para a realização da tarefa. Psiquê segue o conselho do caniço e colhe os fiapos de lã dourados, enquanto os carneiros exaustos cochilam. Entrega-os a Afrodite, dentro do prazo estipulado. Afrodite, se sente derrotada, sem entender de onde vem tamanha força, coragem e determinação.
Na terceira provação, Psiquê tinha que encher uma jarra de cristal, com a água do regato proibido, o regato era inalcansável, caía em forma de cascata, do pico do mais alto rochedo, não se podia subir por ser muito íngreme, não se podia alcançar a água que caía distante dos paredões do rochedo. A água caia nas profundezas do mundo subterrâneo cujo acesso era impensável. Psiquê não desiste. Embora saiba muito bem que essa tarefa, além de não ser fácil, é muito perigosa. A jovem Psiquê sobe pela encosta até onde é possível, e fica pensando numa estratégia para cumprir sua tarefa. O tempo dos humanos é linear e por isso mesmo passa. A jovem em desespero, não consegue pensar em nada que pudesse resolver a situação. Eis que uma águia, que tudo acompanhava, resolveu solidarizar-se com Psiquê, diante daquela difícil situação que ela se encontrava. A Águia tomou a jarra de suas mãos e a devolveu cheia de água da fonte proibida. Quando Afrodite recebe a jarra, fica incrédula com a perseverança e se perguntando de onde vinha toda essa coragem da jovem. Enquanto isso os Deuses do Olimpo vibravam a favor de Psiquê a cada tarefa realizada.
Na quarta provação, Afrodite tenta matar toda e qualquer esperança que Psiquê ainda pudesse ter. Ordenando que ela desça ao mundo avernal ou subterrâneo, para pegar a caixinha de pandora da Deusa Perséfone, esposa do Ades que é o terrível deus da morte. A caixa em questão, está bem segura sobre a penteadeira de Perséfone. Simplesmente era impossível adentrar nesse aposento e de lá sair viva. Psiquê não desiste, ela tinha uma meta, trazer seu amado de volta. Então ela desce ao mundo avernal e fica na porta do palácio, planejando uma estratégia, de como entrar no palácio, ir ao quarto de Perséfone e de lá sair incólume. Com o seu coração na mão, aguarda, alguma intuição, inspiração, aspiração para lá entrar, sair viva e cumprir sua quarta e última tarefa impossível. Uma das torres do castelo, sopra no ouvido de Psiquê, o segredo de como entrar e sair viva do castelo de Ades e Perséfone. A torre deu-lhe a planta do interior do castelo para que ela fosse célere. Psiquê dispunha apenas de cinco minutos, para fazer o que tinha que ser feito. Nesse horário algumas luzes do castelo eram apagadas e ficava na penumbra. A torre pediu que a jovem passasse e repassasse o trajeto, antes de entrar, do contrário pereceria no mundo avernal, por toda a eternidade. Punição imposta pelo Deus Ades, para quem ousasse invadir o seu palácio.
A Deusa Afrodite bem sabia que ninguém jamais invadiu aqueles aposentos e de lá saíra para contar a história. A jovem Psiquê se preparou e no momento propício partiu disparada em direção a penteadeira da Deusa Perséfone, que possuía todos os segredos da beleza feminina, na sua caixa de Pandora, agora desejada por Afrodite. A jovem chega na penteadeira e logo avista o pequeno objeto cobiçada, corre em direção à saída e consegue escapar no prazo previsto. O que não foi dito para a jovem, é que a caixa de Pandora provoca uma curiosidade mortal, num grau insuportável para um humano e só as deidades poderiam abrir essa caixa de segredos.
-O que será que tem nessa caixa de Pandora de tão especial?, pergunta-se curiosa a nossa heroína.
A torre que antes lhe aconselhara, pediu para que ela não abrisse a caixa em nenhuma hipótese, do contrário, o humano que abrisse essa caixa entraria num sono profundo por toda a eternidade. A jovem continua levando a caixa para a Deusa Afrodite, mas como era de se esperar, chega num ponto que ela não resiste e abre a caixa de Pandora. Imediatamente a mãe terra e os Deuses do Olimpo suspiram e lamentam.
-Psiquê cumpriu todas as tarefas que pareciam impossíveis, nadou por todos os oceanos e veio a morrer na beira da praia? Era o que todos os Deuses do Olimpo se perguntavam.
Eros o Deus e esposo apaixonado, vendo todo o esforço da sua amada vai até o seu avô Zeus e pede sua intervenção mais uma vez. Zeus está diante de uma situação inusitada, já que Psiquê é humana e Eros é um anjo e um Deus ao mesmo tempo..
-Vá buscar a sua esposa, traga-a para o Olimpo. Ordena Zeus.
-Como eu faço isso, nenhum humano antes adentrou ao reino do Olimpo? E a minha mãe, quem irá aplacar a sua fúria? Quer saber Eros.
-Deixe tudo por minha conta, vá, desperte-a e traga-a. A partir do momento que você assim o fizer, Psiquê será a décima terceira Deusa do Olimpo. Já que ela desposou meu neto e lutou bravamente por ele, vencendo todas as provações que lhe foram impostas por minha filha Afrodite. Uma alma que assim procede, merece ascender aos céus, concluiu Zeus. Nesse momento as formigas que ajudaram a separar os grãos, o caniço que ajudou na colheita de lã, a águia que encheu a jarra de cristal e a torre do castelo de Ades, aplaudiram de pé o desfecho da história.
Eros agradece ao seu avô, desce num voo rasante e veloz até a terra, pega Psiquê nos seus braços fortes e a transporta-a para o Olimpo ainda dormindo. Chegando ao seu palácio, desperta Psiquê com um cálice de ambrósia que era o néctar dos deuses. Um beijo desperta a guerreira, que agora não é mais a Psiquê humana, e sim, a Deusa Psiquê. O belo casal foi, é e será feliz para sempre por toda a eternidade.
Yogod faz uma pequena pausa…a plateia começa a aplaudi-lo, ele aguarda um pouco e continua…Vocês devem estar se perguntando por que eu escolhi a história que acabo de lhes contar? Já que existem tantas outras histórias mitológicas tão bonitas, algumas até mais bonitas do que essa…
-Bem, devo dizer novamente, que essa história me toca profundamente e de uma maneira muito particular. Os mitos estão presentes em nossas vidas, cada um de nós somos heróis, deuses e vilões da nossa própria jornada. Para aqueles que querem e tenham a coragem de amar e conhecer o amor profundamente, prepare-se muito bem para viver uma tragédia carregada de sofrimento. O amor é maravilhoso e ao mesmo tempo muito cruel, de uma certa maneira é isso que a história de Eros e Psiquê nos alerta. Psiquê na língua grega significa alma, que anseia por amar e através desse amor, realizar a sua missão de subir a escada posta entre a terra e o céu. A alma nem sempre está preparada para sentir e manifestar esse amor, no caso da nossa personagem, tinha em si muita curiosidade humana, que a derruba por duas vezes dessa escada de ligação. A primeira ao querer ver o rosto de Eros, traída por um minúsculo pingo de cera da vela que ela usara para ver no escuro, que protegia o segredo que ela compartilhava com o seu amor. Indica-nos essa história que quanto mais profundamente amamos, maior é o nosso sofrimento. Só pode amar de verdade, quem está pronto para isso, passar por um processo de purificação, simbolizada na nossa história, pelos desafios impostos, pela Deusa e sogra de Psiquê, a Deusa Afrodite. Quando Eros propõe que a sua amada não o veja completamente, ela não pode vê-lo na claridade da luz do dia. Não é isso que acontece no início dos nossos relacionamentos? Quando nos apaixonamos? Quando nos enamoramos mais de nós mesmos, como a um reflexo no espelho. No escuro, início dos nossos relacionamentos, pouco podemos ver de nossos parceiros. Quando nossa heroína, parece feliz, vem a dúvida, a desconfiança, provocada pela inveja de suas irmãs. A dúvida dá luz a curiosidade, atributos humanos. Há quem diga que a Psiquê foi imprudente, traiçoeira, desconfiada. Eu diria que ela teve necessidade de conhecer melhor o seu amor. Conhecer melhor o nosso amor, significa transcender a fase da paixão, ver até onde podemos chegar, constatar que o amor não tem limites, amar de verdade o que o outro é, sem querer modificá-lo. Quem de nós empreende essa empreitada sem dor e sofrimento?
Eros esconde de Psiquê a sua verdadeira identidade. Wle não quer ser conhecido completamente por ela, protege o seu rosto, que simboliza as nossas máscaras e identidades. Psiquê certamente não estava completamente feliz naquela zona paradisíaca de conforto, muitos outros mitos abriram mão dessa zona de conforto, já que aí não há evolução. Ela queria ir mais fundo, conhecer melhor, quebrando assim o pacto de núpcias, que lhe traz consequências. Sabia a jovem Psiquê, que o verdadeiro amor não aceita barganhas, condições ou expectativas e para cada expectativa que cultivamos, somos açoitados pelos dolorosos chicotes da frustração. Por outro lado, não é possível ir mais fundo no amor ou seja lá no que for, sem consequências. Não correr riscos é prudente, mas aí não há vida. O sonho de uma vida perfeita desaparece, Psiquê acorda, caindo numa tragédia das tarefas impostas por Afrodite, a deusa do amor.
Se você tem um objetivo, alcance-o, mas, nunca espere alcançá-lo sem esforço. Quanto mais elevada for a sua meta mais será exigido disciplina, determinação e austeridade de você. Você não está sozinho, tem as formigas que podem ajudá-lo, elas simbolizam o trabalho, tem o caniço de bambu que pode ensinar o caminho da flexibilidade, o momento propício, tem a águia, que simboliza o coração, nos momentos de desanimo, quando nos encontramos a beira do precipício e somos possuídos pelo medo, o coração, nos assopra no ouvido, “Você tem asas, pule, mergulhe, você pode voar”. Finalmente, temos a torre simbolizando o sábio, que nos encontra quando estamos preparados. Sempre disposto a nos ajudar, a nos provocar no caminho da autotranscendência, quando estamos letárgicos e prontos para nos acomodar ou desistir. A realidade e a perfeição não se avizinham. O que julgamos perfeito está em evolução. Essa história maravilhosa de um dos mitos da Grécia, talvez queira nos dizer que há algo mais além no humano e esse algo mais é a alma ou Psiquê que deve atravessar a ponte que liga o Humano ao Divino. Ligação as vezes negligenciada por terapeutas e profissionais de saúde.
Para concluir, esperando que eu não tenha me alongado mais que o necessário, temos que transcender o amor possessivo, o amor pelo poder, o amor humano, o amor do toma lá dá cá e alcançar o amor incondicional por Deus, que é próprio da alma humana, que é próprio dos Deuses.