Ele sozinho é o líder divino, aquele que tem a capacidade de implantar inspiração no cerne da alma humana.
- Sri Chinmoy
O que é, como reconhecer, ensinamentos, discípulos e mais: a figura do Mestre espiritual
Logo abaixo está a página sobre o Mestre iluminado, de uma de uma sequência de artigos sobre o Mestre espiritual, escritos por Sri Chinmoy. As outras páginas são:
- O que é um Mestre espiritual
- O Mestre iluminado
- Histórias de Mestres espirituais
- Aforismos sobre o Mestre verdadeiro e o discípulo verdadeiro
- Como reconhecer e escolher um Mestre
- Ensinamentos dos grandes Mestres
- O Mestre e o discípulo
- VÍDEO: A importância de ter um Mestre espiritual para aprender a meditar
- Fonte: livro de Sri Chinmoy, chamado O Mestre e o Discípulo: considerações sobre a relação Guru-discípulo.
O Mestre iluminado
por Sri Chinmoy, do livro O Mestre e o Discípulo
Deus-realização é Auto-descoberta no mais elevado sentido do termo – a percepção consciente da sua unicidade com Deus. Enquanto permanecer em ignorância, sentirá que Deus é um outro ser, que tem Poder infinito, e que você é a mais débil pessoa na Terra. Mas, no momento que realizar Deus, virá a saber que você e Deus são absolutamente um, tanto na vida interior quanto na exterior. Deus-realização significa a sua identificação com seu próprio e absolutamente mais elevado Eu. Quando puder identificar-se com o seu mais elevado Eu e permanecer nessa consciência para sempre, quando puder revelá-la e manifestá-la à sua ordem, então saberá que realizou Deus.
Você estudou livros sobre Deus e disseram-lhe que Deus está em todos. Mas não realizou Deus em sua vida consciente. Para você, isto é tudo especulação mental. Mas, quando se é Deus-realizado, sabe-se conscientemente o que Deus é, com que Ele Se parece e o que Ele deseja. Quando alcança a Auto-realização, você permanece na Consciência de Deus e fala com Deus face a face. Você vê Deus no finito e no Infinito, vê Deus como pessoal e impessoal. Isto não é alucinação mental nem imaginação, é realidade direta. Essa realidade é mais autêntica do que a visão que tenho de você diante de mim. Quando alguém fala com um ser humano, há sempre um véu de ignorância – escuridão, imperfeição, desentendimento. Mas entre Deus e o ser interior de alguém que O realizou, não pode haver ignorância e nem véu algum. Portanto, poderá falar com Deus mais claramente, mais intimamente, mais abertamente do que com um ser humano.
É dentro do humano que o divino existe. Não precisamos viver em cavernas nos Himalaias para provar nossa divindade; essa divindade podemos externar em nossa vida normal cotidiana. Infelizmente, passamos a sentir que espiritualidade é anormal porque vemos muito poucas pessoas espirituais neste mundo de ignorância. Todavia, a verdadeira espiritualidade significa aceitação da vida. Primeiro temos de aceitar a vida como ela é, e depois devemos tentar divinizar e transformar a face do mundo com nossa aspiração e realização.
Às vezes, as pessoas pensam que alguém realizado seja completamente diferente de uma pessoa comum e se comporte de maneira muito incomum. Eu gostaria de dizer que uma pessoa realizada não precisa e nem deve comportar-se estranhamente. O que ela realizou? Ela realizou a Verdade última em Deus. E quem é Deus? Deus é alguém ou algo absolutamente normal. Quando alguém realiza o Altíssimo, isto significa que tem Paz, Luz e Beatitude em medida infinita, e não que sua aparência exterior ou seus traços sejam diferentes. Não significa que se tornará, de algum modo, anormal. Ele é normal. Mesmo após um Mestre espiritual realizar o Altíssimo, ele ainda come, fala e respira como todo mundo.
Pessoas não-espirituais frequentemente pensam que um Mestre, se ele é verdadeiramente realizado, tem de fazer milagres a toda hora. Mas milagres e Deus-realização não necessariamente andam juntos. Quando olha para um Mestre espiritual, o que vê é Paz, Luz, Beatitude e Poder divino. Basta entrar nele e logo sentirá essas coisas. Mas, se espera algo mais de uma alma realizada, se vai a um Mestre espiritual pensando que ele satisfará os seus inúmeros desejos e o fará multimilionário, você está fadado ao desapontamento. Se é a Vontade do Supremo, o Mestre pode facilmente trazer prosperidade material em abundância e tornar alguém um milionário de um dia para o outro. Mas geralmente não é essa a Vontade do Supremo. A Vontade do Supremo é prosperidade interior, e não profusão exterior.
Um Mestre realizado é como alguém que sabe como subir e descer de uma árvore muito bem. Quando o Mestre desce, ele não perde coisa alguma, pois sabe que no momento seguinte será capaz de subir outra vez. Imagine uma criança ao pé da árvore, dizendo: “Por favor, dê-me uma deliciosa manga.” Imediatamente, o Mestre trará uma para baixo e depois subirá de novo. Se ninguém mais pedir mangas, ele se sentará no galho e esperará.
Se você dorme profundamente e alguém o belisca e grita “Acorde! Acorde!”, essa pessoa não está fazendo-lhe um favor. Você ficará irritado. O Mestre espiritual não o incomodará; ele não pedirá que acorde. Ele fica ao lado da sua cama e espera até que você acorde e, no momento em que o fizer, ele pedirá que olhe para o sol.
Aqui na Terra, se alguém tem algo a oferecer e o outro não aceita, o primeiro fica furioso, e diz: “Seu tolo! É para o seu próprio bem que estou dando-lhe isto.” Ele briga com o outro e fica muito aborrecido se sua oferta não é aceita. Já no caso de um Mestre espiritual, é diferente. Ele vem com sua riqueza, mas se a humanidade não a aceita, ele não reprova a humanidade. Mesmo se a humanidade o insulta e fala mal dele, ele não reclamará a Deus. Com sua ilimitada paciência, ele dirá: “Tudo bem, hoje vocês dormem. Talvez amanhã possam acordar e ver o que tenho a oferecer. Eu esperarei por vocês.”
Um verdadeiro Mestre espiritual não perde nada se a Terra rejeita o que ele tem, porque ele está bem estabelecido em sua vida e consciência interior. E, se a humanidade aceita o que ele oferece, ele também não perde nada. Quanto mais dá, mais recebe da Fonte. Isto não acontece com aspirantes comuns nem falsos Mestres. Se derem algo, não poderão repor. Mas o Mestre, que está em contato com ilimitada capacidade no mundo interior, tem um oceano infinito por fonte. Ninguém pode esvaziar o infinito oceano interior.
O verdadeiro Mestre quer dar tudo a seus devotados discípulos, mas o poder de receptividade deles é limitado. Então, ele tenta ampliar seus receptáculos, para que se tornem capazes de receber a Paz, Luz e Beatitude que ele traz. Contudo, ele não pode forçar um aspirante a receber mais do que pode reter. Senão, o receptáculo do buscador poderá se partir. Um Mestre pode apenas verter, verter e verter sua infinita Luz sobre seus discípulos, mas, atingido o limite de suas capacidades, qualquer algo mais que dê será perdido.
Alguns Mestres são muito seletivos e querem apenas almas completamente dedicadas, que aspiram intensamente e estão absolutamente destinadas à vida espiritual. Sri Ramakrishna, por exemplo, quis apenas um número limitado de discípulos, e foi muito rigoroso sobre quem aceitava. Mas alguns Mestres dizem: “Qualquer um que deseje aprender algo sobre a vida espiritual é bem vindo à minha comunidade. Que cada um progrida de acordo com sua própria capacidade.” Assim, eles aceitam milhares de discípulos.
Mas, independente do número de discípulos que aceitem, se são verdadeiros Mestres espirituais, aceitam somente aqueles predestinados para eles. Se eu sei que alguém fará progresso mais rápido através de algum outro Mestre, então oculta e espiritualmente farei com que ele sinta em poucos meses que não é destinado a estar comigo. O que importa não é o número de discípulos que um Mestre tem, mas sim se ele os leva até a Meta. Se eu sou realizado e outro também é, nós somos como dois irmãos de um mesmo Pai. A nossa meta é levar nossos irmãos e irmãs mais novos ao Pai. O jogo estará terminado somente quando toda a humanidade for levada a Deus. Se dois Mestres são verdadeiros irmãos, como pode um ficar infeliz ou aborrecido se alguém vai a seu Pai através de outro? Na vida espiritual, o que importa não é quem faz algo, mas que a coisa seja feita. Quem faz é uma mera questão de nome e forma, os quais serão apagados pela história. O que importa é que houve evolução na Terra.
Todavia, saiba que o verdadeiro Mestre se preocupa muito que os discípulos destinados a ele de fato venham até ele. Sri Ramakrishna costumava ir ao andar de cima de sua casa e clamar por discípulos espirituais. E costumava perguntar à mãe Kali por que os discípulos que ele estava destinado a ter não chegavam. Alguém poderia questionar por que ele não podia esperar pela Hora de Deus. De fato, a Hora de Deus havia chegado para Sri Ramakrishna, mas a ignorância do mundo a estava impedindo. Deus lhe dissera que fizesse algo e lhe dera a capacidade, mas a ignorância estava plantada diante dele atrasando, atrasando e atrasando a sua manifestação. Sri Ramakrishna não chorava por discípulos que tocassem seus pés. Ele clamava por discípulos que fossem seus braços e mãos, que voassem com ele na Consciência Universal, que trabalhassem para ele e, portanto, trabalhassem para Deus.
Ninguém é indispensável, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, cada pessoa é indispensável enquanto for absolutamente sincero em sua aspiração e em seu serviço à Missão do Supremo. Por orgulho e vaidade, ninguém deve sentir-se necessário; mas todos são necessários se são instrumentos escolhidos de Deus, sinceros e dedicados. O Mestre precisa de discípulos porque eles são a expressão da sua própria consciência. Quando recebe o Comando do Altíssimo para fazer algo na Terra, ele precisa tentar encontrar aqueles que serão parte e parcela da sua consciência, para ajudá-lo a cumprir aquela Ordem.
Tradicionalmente, os Mestres espirituais costumavam dizer: “Se tens algo, os outros virão. O poço não vai aos que têm sede; quem tem sede vai ao poço.” Isto é absolutamente certo se é uma pessoa madura que tem sede. Mas, se quem tem sede é ainda uma criança, então é diferente. O bebê chora em seu quarto, e a mãe tem de correr até ele para alimentá-lo. A mãe não diz ao bebê, “Você é quem tem de vir, pois é você quem deseja algo de mim.” Não, a mãe larga tudo e corre para o bebê. Igualmente, no mundo espiritual alguns Mestres sentem que precisam sair pelo mundo, porque percebem que o mundo exterior é apenas um bebê em se tratando de consciência. Esses Mestres sentem que há muitas crianças implorando por vida espiritual, sabedoria espiritual, perfeição espiritual, mas que não sabem onde e nem como encontrá-las. Então, os Mestres vão de um lugar para outro oferecer sua luz com a ideia de servir à divindade na humanidade.
Quando o mundo chora por alimento interior, se nós temos a capacidade, temos de alimentá-lo. Se tenho a capacidade de dar-lhe algo e também a capacidade de colocar-me bem diante de você, por que deveria chamá-lo até mim? Se tenho a capacidade de colocar-me diante de você e dar-lhe o alimento espiritual que você deseja, então eu devo fazê-lo.
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Uma alma verdadeiramente
Deus-realizada
Deve alegremente descer
Até os assuntos humanos terrenos.
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Ele não medita
Pela própria realização.
Isto já está feito!
Ele medita
Pela sua iluminação.
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Um verdadeiro Guru é um desprendido, dedicado e eterno mendigo, que implora a Deus onipotência e onipresença para alimentar seus discípulos inconscientemente famintos e conscientemente aspirantes – em perfeita conformidade com as necessidades de suas almas.
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O Guru é o ímã espiritual constantemente puxando o discípulo em direção à infinita Luz do Supremo.
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Um verdadeiro Mestre espiritual deve assumir
As incontáveis responsabilidades
Da sua família espiritual.
Mas também ele permanece
Numa consciência de criança
Para encher suas crianças-buscadoras
Com a alegria e o deleite
De Deus, a eterna criança.